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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Poema CXXXIX - Pele

Estende-me a pele sobre ti
Como xaile negro desvanecido,
Pele seca e mal tratada,
Como lágrima enxugada,
Caída em teu vestido

De pele, de corpo... Poros e pêlos.
Estendi-me sobre nós
Sobre a cama desfeita,
Nossa veneração eleita,
Em tons de uma só voz

Gritante e jubilar!
Cobri-me de mim, só,
Envolto em flanelas.
Cerraram-se as janelas.
Pelos ácaros me fiz pó.

Lançaste-me ao quarto vento
E à aragem pré-matinal.
Refrescas-me os sentidos,
Apuras-me os lânguidos...
E a pele sabe-me tão mal...

Bruno Torrão
13 Mai.'05



E assim, em pele termino o meu quarto livro, Magnotico - Livro Segundo que poderão, porventura, seguir na íntegra através deste link!
Resta, agora, aguardar pela publicação do próximo. Só aqui! Só no Signo das letras!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Poema CXXXVIII - Açucenas

Tardes amenas, de Primavera!
Tardes de açucenas, quem me dera
Que tão serenas em mim fossem,
Tão calmas em mim que fossem,
Tais amenas e doces tardes
Nas quais apenas ainda ardes
Em minha vista já cega
De um coração que não sossega!

Ó mente apaixonada! A minha!
Talvez machucada... Coitadinha!
Não faço por ti minha coitada.
Mente sem rumo, desnorteada,
Amargas em sumo de limonada!
És tão doce, açucarada...
Mas não te sustentas em nada!
E na minha cega vista, molhada,

Permaneces invicta! Intocável!
Como voz de anjos, inolvidável,
Dos tempos em que passámos
Abraçados ao mundo... Sonhámos!
Tanto que sonhámos, amor!
Tanto que sonhámos... Amor!
Lembro agora esses momentos,
Mergulhado em longos tormentos,

E encharco em mim a saudade!
Ó triste e dolorosa maldade
Que o tempo não quis apagar!
Inocente dor a atacar
A alma, o corpo, a mente...
Tudo à volta anda dormente
Por me esquecer das tardes amenas.
Primaveras tardes de açucenas.


Bruno Torrão
07 Abr. 05

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Poema CXXXVII - Brinca, Alegria!

Brinca nesta rua, Alegria,
Enquanto to permite a idade!
Pois daqui a uns anos, mais tarde,
Não mais brincarás, Alegria...

Brinca agora, pequena Alegria,
Como brinca qualquer criança
Brotando dos olhos esperança,
Fantasia, emoção e alegria...

Só agora podes brincar, Alegria,
Aproveita agora tamanha virtude!
Pois com o crescer tanto se ilude
E na vida só se perde é alegria...

Bruno Torrão
19 Fev.'05



Este foi, como podem verificar pelos tag, mais um poema no qual utilizei a táctica Three Words Poetry.
Ainda hoje me espanto, comigo, como tive tamanha agilidade nesses tempos em fazê-lo... E hoje nem tampouca agilidade tenho - quase - sequer, para escrever...!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Poema CXXXVI - Abraçado à morte

Quem sabe ao chegares, um dia,
Em vez de me veres abraçado a mim,
Abraçando a morte com alegria,
Me encontrarás no mesmo sítio, por fim.

Talvez sem esperares, um dia,
Estarei deitado no leito eterno,
A morte abraçando-me, como eu queria,
Apenas a sete palmos do inferno.

Talvez realize tais desejos, um dia,
Como jamais consegui realizar maiores.
Abraçar a morte. Tanto que queria...
Mas jamais por morrer de desamores.

Bruno Torrão
13 Fev.'05



Engraçado! Por pouco não colocava o poema no seu quinto aniversário.
Por este modo vejo em como mudei tanto nestes cinco anos volvidos, neste tema e nesta temática. quer na vida, quer na escrita. Ainda que muito do que escrevo - ou escrevi (por vezes já não sei como me designar neste ponto ou situação) - tenha muito-bastante-ou-quase-tudo daquilo que sou, presencio e vivo.