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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Poema CXXVII - Por vezes estou vivo

Por vezes estou vivo... outras, nem sei.
Por vezes respiro. Outras suspiro...
Houve até alturas em que sonhei,
Que de um simples retiro,
Sombrio e húmido, escuro de morte,
Perdia a minha orientação e o meu norte,
A quem os meus suspiros mirava,
E com tamanha frieza mos roubava.

Por vezes estou morto... julgo que esteja.
Nem sei... Não conheço o que separa, afinal,
A vida da morte. Sou a alma que rasteja
Entre cacos e cactos, espinhos de dor mortal,
Que me rasgam a pele. Fraquejo. Como estou?
Nem sei dizer, sequer, o que sou...
Se alma, se corpo, se nada... ou tudo.
Se rasgos de tristeza que me fazem mudo.

Por vezes sou tudo... outras, nem tanto.
Por vezes sou nada. Por vezes apenas sou
Aquele que lança aos ventos o pranto
Que imagina que quem tal choro criou,
Não passa de alguém que não é vida.
Alguém que nunca foi nada. Esquecida,
Talvez, uma vida que se fez de aço,
Morta e desfeita pela malvadez do cansaço.

Por vezes sei o que sou. Muitas não sei.
Julgo que manejo o tempo e sou quem ensina
Toda a gente a viver o que, um dia, inventei.
Como manter a pose. Como matar a rotina.
Como se ser feliz numa intensa infelicidade.
Como se manter jovem no fim da idade.
Mas nem sempre estou vivo. Nem sempre morto.
Caminho, portanto, à luz de um caminho torto.

Bruno Torrão
24 Jan.'05

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Poema CXXVI - Quisera eu

Se a terra ao fim se entregasse,
Como pagamento à sua tortura,
Quisera eu, que a felicidade saltasse,
Da minha palma a uma pedra dura.

Se o mundo ao fim se redimisse,
E se submetesse ao descontrolo,
Quisera eu, que a euforia sorrisse,
Saltando por fim do meu solo.

Se a vida ao fim se terminasse,
E me desse oportunidade de escolha,
Quisera eu, que ela aceitasse,
A minha vida por esta folha.

Bruno Torrão
15 Jan.’05

domingo, 26 de julho de 2009

Poema CXXV - É estranho (que estranho)

É estranho que me adore
Quem eu nunca soube adorar.
É estranho que me ame
Quem eu nunca soube amar.

É estranho que me odeie
Quem eu nunca soube odiar.
É estranho que admire
O que não soube antes admirar.

É estranho que morra
Sem nunca antes ter vivido.
É estranho que viva
Sem nunca antes ter sofrido.

É estranho que sofra
Sem que tenha antes me arrependido.
É estranho que me arrependa
Sem que tenha antes aprendido.

É estranho que agora sorria
A quem nunca me tenha sorrido.
É estranho agora sofrer
Por quem nunca tenha sofrido.

É estranho que tudo me estranhe
E tudo o que estranho já vivi.
É estranho que tudo estranhe
Sem nunca estranhar o que vivi.

Bruno Torrão
13 Jan.’05



Estranho acredito que andava eu, nesta altura... Não me pareceque andasse bem das ideias. Agora que revejo estes últimos poemas, não gosto nada do que leio neles... :\

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Poema CXXIV - Prisioneiro

Prisioneiro

Gostava eu, de um dia saber,
De todas as palavras os significados,
Para no fim me saber defender
De todos estes e aqueles meus pecados

Que fizera um dia, enquanto vivi.
Que fiz toda a vez em que me existia.
Tomara eu, aprender o que aprendi
Fora da vida, enquanto vivia.

Extenso arenal, que pelo mar se estende,
É este que agora tanto procuro,
Saber o que, afinal, à vida me prende,
Num lodo que me aprisiona de tão duro.

Bruno Torrão
13 Jan.’05



Ainda que este não seja tão melhor... Mas se dois num dia são muitos, três exageram.
Amanhã passo por cá, novamente!

Poema CXXIII - Poema do desespero

Poema do desespero

Longe!
Vai para longe...
Sai!
Sai como quem foge ao mundo
Tal como foge o monge para se tornar ermita...
Para se tornar tão só
Para se tornar tão ele.

Parte...
Parte para longe de mim
Distante... perto do fim. Ou para lá
Da dimensão fechada.
Deixa-me!
Larga-me!

Estou em perfeito desespero...
Perfeita amargura, tristeza, solidão,
Angústia, penura, aflição, agonia...
E ainda permaneces.
Prendeste, agarras-me...

Posso até chamar-te...
Não me ouves chamar-te?
Responde-me, então...
Vem até mim. Quero-te perto de mim...
Sentir o teu perfume deambular
Pelas minhas narinas...
Sentir o teu olhar destruir-me
As retinas molhadas...
Sentir o teu respirar nos meus poros,
Suave brisa que corre meus pêlos
Fortes em corpo frágil...
Agora vem!

Vem!
Quero ter o prazer
De te ver sofrer como sofro!
Desespero por sentir tamanha vitória!
Anseio por te ver no chão
Pedindo misericórdia...
Mas deixa-me...
Só quero que me deixes.

Bruno Torrão
02 Jan.’05



Como não gosto NADA deste poema, hoje deixo aqui dois!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Poema CXXII - Cortejante

A Eva Redondo

Nasce por fora sem dar conta,
Cresce por dentro, incontrolável.
Deixa o corpo demente, a cabeça tonta.
É um bem tão mal alcançável.

Sabe tão bem cortejar...
Sabe tão bem sentir-se...
Tão facilmente sabe esquartejar
Um coração... e redimir-se.

É tão natural como o sorrir
Tanto o é como o morrer.
Nada mais é que o sentir
Que bem se quer, e se é bem querer!

Bruno Torrão
28 Dez.'04



Este poema nasceu em menos de 10 minutos. Na aula de Português do já distante curso, a formadora, Eva Redondo, a quem dediquei este poema, solicitou para que cada um descrevesse o amor. Eu fi-lo parecer assim. E até gostei! :)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poema CXXI - Monstro

Que papel é este que trago,
Em pedaços tão grandes e pequenos,
Incertos de doce e amargo?
Tão doentes e de saúde plenos...

Que estranho rasgo de solidão...
Rasgo a solidão, tão estranhamente,
Não se dispersa jamais. Não!
Permanece em minha mão demente

Como se, no verso, tivesse cola.
Vazia está minha mão. Vazia...
Repleta de papel em forma de bola.
Mando-a fora. Não se desvia.

Porque não me largas, terror,
Monstro do meu medo inconsciente?
Larga-me como me largou o amor,
Que em todos estes dias está ausente.

Bruno Torrão
26 Dez.'04