magnotico on-line entertainment

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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Poema CCX - Em testamento

Se é desta que trago o mundo
Em peso nos braços fracos
Que desde sempre sustento,
Tragam-me num só segundo
De todos os pratos os cacos
Unidos em sangue e unguento

Deste mundo que suporto
Nestes fracos e débeis braços.
Tragam vermelhos machados
E rosas púrpuras - que sou morto -
E preencham com eles os espaços
Dos poros no meu corpo dilatados!

Aí acomodem cada pétala desfiada
E c’os espinhos façam uma coroa!
Aleitem-me num lençol de flanela
- para ajudar na digestão da bicharada -
E não! Não me sepultem em Lisboa!
Sou demasiadamente único para caber nela!

Larguem os restos de mim ao ar...
Lancem-me em cinzas no oceano profundo
Para alimentar os peixes que habitam nele,
Ou que me deixem apenas no fundo do mar
Porque é desta que eu quebro o mundo
E passo a viver no centro dele!

Bruno Torrão
05 Abr. 09

domingo, 30 de outubro de 2011

Poema CCIX - Vinho

Volta a beber deste vinho que
Trouxe perdido de outras bocas.
Vinha já esquecido doutros recantos
Da minha boca.

Bebe em tragos fortes e profundos!
Trago-os também fortes e também profundos!
E também te estrago com o vinho...

Com este vinho que mandei pisar
Quando ainda mal adivinhava o seu sabor.
O seu paladar a frutos secos
E amargos como as amêndoas
Que vejo nos teus olhos doces.

Entrego-te num copo de vidro
Ainda baço e marcado com linhas
Dos outros vinhos.
E ainda marcas doutros tantos lábios
Onde despejei outros tanto litros
Doutros tantos vinhos e deste, também.

Os paladares confundem-se!
Mas não os vinhos.

Bruno Torrão
05 Out. 08

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Poema CCVIII - Sobre os dedos

Desfiz na nossa cama os lençóis
E com eles emaranhei os dedos
Até sentir doer e estalar as unhas.
Nos nós do cabelo que constróis
Com estes meus fracos dedos
Senti cruzar a força que neles punhas

O pulsar do sangue. O pulsar apenas!
Nos dedos que agarraste apertando
Cada vez que os teus dedos tremiam,
Senti tremer meu corpo como as penas
Que tremem num vendaval coçando
O capim dos campos que se infirmam

Ao passar a praga de muitos insectos!
Sentir passar-te o vendaval nos dedos;
Baixinho. Quase que insensível, parece!
Quase rente ao corpo que dos afectos
Que fizeste cruzar com os teus dedos
Estremece, e por esses dedos padece.

Nos meus dedos restam apenas os nós
Que emaranham, apenas, ainda os lençóis
Da cama que era nossa e quis desfazer.
Largo agora os dedos pelos próprios nós
Que agarram com a força dos lençóis
O corpo deitado, carente, ainda a padecer.

Bruno Torrão
13 Abr. 08

domingo, 9 de outubro de 2011

Poema CCVII - Retrato do pianista

A testa franzida. Os dedos vincados
Correm em estrada branca encardida.
Nas notas soltas saltam palavreados
Desgostosos de amor que lhe trouxe a vida.

O olhar vago e os dedos vincados
Nas teclas vazias como na alma fria,
O pianista chora sorrisos mal esboçados
No amargo sabor da sua melodia.

E o pé que não cansa, e os dedos vincados
Pedalam na esperança de ver agradados
Os tons que lhe apagam a má postura.

E os dedos! Os dedos ainda vincados
Saltam nas pedras duras da própria cabeça...
E uma música acaba sempre que outra começa!

Bruno Torrão
21 Dez. 07

sábado, 10 de setembro de 2011

Poema CCVI - Na mesa cama

Fumo nas noites o luar azedo
E o brilho das estrelas opaco e baço.
Encharco os pulmões de odor a medo
E grito no vácuo sentido em que abraço

As brasas num chão incandescente
E, no ar, as cinzas em pó asfixiante.
Já vejo o mundo arder lentamente
Por dentro duma bolha flutuante.

E à mesa exponho o corpo aberto.
Estilhaçada em cacos a minha mente!
Pego no vazio ao meu redor e aperto
Contra o nada que aqui se sente

E na minha cama aqui se sentam
As armas que ergo das batalhas falidas.
Só mesmo elas agora se contentam
Por me ver sangrar nas minhas feridas.

Assim me adormeço sob lençóis de pregos
Que cumprem em regra a lei da gravidade.
Dos sentidos me restam os olhos cegos
Cujas lágrimas tomaram em insanidade!

Bruno Torrão
09 Dez. 07

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poema CCV - Chicote

Chicoteio numa cidade-noite dolentes versos
De sangue negro e amargo a vinho.
A alma trôpega soluça a pé-coxinho
Nas pedras calcário dos passeios dispersos.

Nas luzes amarelas que me mijam os ossos
Prego pregos de platina em corrosão.
Sangram-lhe os neutrões em faísca ao chão
Onde estendo as palmas e os destroços

Dos edifícios que não soube cimentar.
Nas escuras ruas – que são já avenidas! –
Escrevo por traços contínuos as medidas
Do meu corpo espalmado a lacerar.

Bruno Torrão
26 Set. 07

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Poema CCIV - Fumo

Fumo sem querer parar. Jamais o quis.
Na garganta o fumo asfixia-me a voz
E as palavras presas ao que se diz
Sob a forte névoa do fumo atroz.

Vejo opaco e negro o fundo do meu ser
E na garganta vermelho que brota
Em sangue de raiva, de ira a escorrer,
E no peito d’ânsias já se debota

Pelo corpo uma cor que desconheço.
Se apenas o fumo é o que mereço,
Que deixe jamais, então, eu de fumar!

E se ao menos o meu fumo respeito
– Que me consome da garganta ao peito –
Seja o resto do meu corpo p’ra fumar!

Bruno Torrão
14 Set. 07

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Poema CCIII - Estrelas

Quando à noite sacudo o brilho das estrelas
E a imensidão do espaço vago de luz
A solidão embarca em mim e seduz
Tudo o que de escuro existe nelas

Imputa em mim a vontade de acender,
Incendiar e deixar queimar a existência.
Ver tornar-se pó ralo a paciência
Das esperas loucas – as ânsias – em te rever.

Agora que nelas o brilho é nulo e escasso
Relembro as labaredas dos fogos da paixão
Que as trevas mais opacas em pleno clarão
Se tornavam ao acontecer em nós cada abraço.

Bruno Torrão
10 Set. 07

domingo, 22 de maio de 2011

Poema CCII - Não era Verão

Era sonho que fiz acordar na madrugada
Perdida, ainda, às voltas no meu consciente.
Os dentes rasgavam as veias da almofada
Já alcoolizada do meu suor intermitente...

Não era Verão e eu já me sentia queimado,
Não na pele mas na alma quase morta.
A roupa da cama balançava-me asfixiado
Pelos escassos passos que me levam à porta

Onde a fuga seria mais fácil que o cenário
Negro e putrefacto que vingava no quarto.
As ideias derretiam-se ao invés e contrário
Daquilo que alguma vez foram de facto!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Poema CCI - Sou eu que venho do mundo

Sou eu que venho do mundo
Onde a vida salta à corda
E os sonhos se mordem à fome
Em lençóis nos quais confundo
– E o sentir faz com que morda –
A euforia que agora some.

Sou eu que venho do mundo
Onde os rios correm para trás
Das serras feitas de algodão:
Quadros que pinto num segundo
Com pincéis feitos de gás
Sulfato e abstracta perfeição.

Sou eu que venho do mundo
Onde as cidades se destroem
Por entre florestas de segredo
Cheias de fadas que fecundo
Com as palavras que corroem
A coragem e o próprio medo.

Sou eu que venho do mundo
Já acabado em artística obra;
Procriação em peça de museu.
Um aquário onde me afundo,
Envolto em veneno de cobra,
Amniótico líquido onde nasceu

O mundo de onde eu venho,
Crescido na vida do meu inverso.
Onde nem mesmo a consciência
Se cruza nas rectas que desenho
Ao longo de cada estrofe ou verso
Que emano da minha existência!

Bruno Torrão
01 Jun. 07

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poema CC - Vontade

É a voraz vontade de escrever
A intra-força fome de escrita
De ter sentido à morte e morrer
E mais perder o pio e sono
Por não ter tido palavra dita
E adormecer a alma sem dono.

Bruno Torrão
28 Mai. 07

sábado, 2 de abril de 2011

Poema CXCIX - Erva

Já deixo crescer erva cinza-opaca
Nos meus jardins da razão.
Não que seja débil ou fraca.
Apenas porque não cresce do chão!

Deixo-a descer dos céus carmim
Até me cobrir o corpo todo.
Esta erva já não vem de mim!
Cheira a estrume, merda e lodo!

Ainda que venha verde fresquinha
E a prometer aroma-humidade,
A que vem dos céus não é minha,
Mas é da minha sociedade!

Bruno Torrão
17 Mai. 07

domingo, 20 de março de 2011

Poema CXCVIII - Chão

Rabisco uma linha por toda a pele
Pulsada em força e de traço grosso
Como se escrevesse as dores em papel
E as apertasse pujantes ao pescoço.

Cresce-me a falta de ar e agonizo
Os gritos de sofrimento e ansiedade.
A pele já sangra o chão que piso
E beijo em desprezo. Já sem vontade...

Desfio agora a linha que desenhei
Com mais força com que as traço.
Julguei-me fraco e já mal notei
Se era meu ou da morte o abraço

Que me apertava contra o chão.
Deixei-me descansar naquele lugar
Enquanto o tempo vagava a solidão
Que eu próprio quis desenhar.

Bruno Torrão
15 Mai. 07

quinta-feira, 10 de março de 2011

Poema CXCVII - Cigarro

Chega de sabor a cigarro de amargo lume bel
Que queimo e agarro e aperto contra a pele
Com a ponta da caneta com que tatuo na alma

O perfil da tua silhueta que corri palma a palma,
Dedo a dedo,
Beijo a beijo...

E passo, a passo, o medo de perto
Onde acerto no desejo da memória que acarreto
No meu ínfimo sentir a tua breve recordação.

E eu que julguei sentir que o tempo voltaria e não,
Não soube como voltar...

Apenas não soube como procurar um caminho certo
Que nos levasse de novo ao sabor suave
Do cigarro que fumávamos em união.

Fique apenas o aroma dos momentos ponteiros
Que tic-tavam a melodia dos nossos corações,
Certeiros,
Que só não acertaram no contratempo.

B. Torrão e M. Palma
07 Mai. 07

terça-feira, 1 de março de 2011

Poema CXCVI - Narcisismo

Sirvo ao mundo como estou.
Pleno duma supra-raiva interior
Onde rasgo a carne e sou
Canibal do meu próprio amor.

Onde me consumo a cada segundo
Em compulsivos desejos carnais.
Onde afogo em sangue profundo
Que oxigeno nas veias arteriais

A paixão de um ser narciso
- Se morrer por mim, aprovo! -
Por saber que de ti já não preciso
Para suportar um mundo novo

Sem a tua presença – inconstante!
Prefiro até que me apeles à lembrança
Como tens feito em cada instante
Na minha memória que já cansa

Em te ter em constante murmurinho.
Toca-me agora, somente, se te peço
Para que me sinta só e, sozinho,
Me embrenhe na solidão que teço.

Bruno Torrão
01 Mai. 07

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Poema CXCV - Nos teus olhos

Ao ver-te, não me brotam palavras.
Calo-me... Prendo-te num abraço.
Com os teus olhos a mim lavras
O corpo todo e o meu espaço,

Como se fosse um campo agreste
E de sabor que não entende ao paladar,
Ainda virgem de amor silvestre
Como as amoras que crescem no teu olhar.

Trinco-te as vistas e a íris toda se deleita...
As pálpebras aconchegam-nos num pestanejar
Como se lançassem lençóis onde se deita
O nosso sonho comum duma cama de amar.

Bruno Torrão
29 Abr. 07

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema CXCIV - Morada

As coisas mudam de sentido
Nas ideias que o pensamento cruza.
Sinto o mundo quase perdido
Numa rotação quase confusa.

E no rodar do calendário,
Dia-a-dia, por semana,
Rasuro o meu itinerário
Duma folha donde emana

A confusão dos meus versos
E o riscar das palavras inúteis.
Vivo em mundos submersos
De sub mundos supra fúteis

Que se reflectem no meu espaço,
- Embora os queira detonar -
Mas suporto em cada braço
Quilos de algemas p’ra não lutar...

As palavras não me saem num grito
Enquanto as escrevo na minha pele
“A fraca existência que vomito
Sabe-me a tudo e mais a fel!”

Onde se esconde o mundo
Que de mim já não quer nada?
Tudo à volta é poço onde me afundo...
Quem me dá do mundo a morada?

Bruno Torrão
25 Abr. 07

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Poema CXCIII - Réstia

Roí a minha última unha
Onde punha
Todo o verniz do frasco.
Deu fiasco.

Rasguei a minha última camisa,
Tão precisa,
Que engomava com precisão
A cada serão.

Do jardim colhi a última rosa
Em prosa.
A mesma que a mim prometia
Arrancar em poesia.

Sequei a última gota dos canos
Que, em anos,
Guardei religiosamente da vida.
E em seguida:

Gastei todo o amor por ti
Que restava ainda no meu ser.
Perder? Não! Não te perdi...
Preferi, por tudo, te esquecer.

Bruno Torrão
02 Mar. 07

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Poema CXCII - Madrugada

para Margarete

Estivo nas costas o peso do dia
Como quem deseja o seu termo...
Árduo desfalecer da folia
Que transpira o amor, enfermo,
Na madrugada só da gente.

Sei que guardas no sentir,
Como que corpo morto e ausente,
O pesar amargo do travo florir
Das azedas que brilham p'rá gente
Sob o sol (desgosto) do meio-dia!

Guarda tu a nossa madrugada
Antes que ela se faça dia!
Eu mantenho-a em mim guardada
Como a eterna melodia
Que fizemos vingar entre nós!

Bruno Torrão
19 Fev. 07

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poema CXCI - E as flores

Veio ainda o destino dar-me
Um molho de rosas vermelhas
Veio ainda o destino tirar-me
Todo o pólen e abelhas
A cor o cheiro. Rosas velhas

Veio ainda o destino dar-me
Cravos lírios margaridas
Veio ainda o destino tirar-me
Mel e favos. Deu-me feridas
E mais as rosas antigas

Veio ainda o destino dar-me
Do arco-íris todas as cores
Veio ainda o destino tirar-me
Para além de todos os sabores
Amores odores... E ainda as flores!

Bruno Torrão
30 Jan. 07

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Poema CXC - A tua língua

Quero a tua língua
Na minha enrolada
Tal como salsicha em couve-lombarda
Sentir-te as papilas
Até as aftas em baixos e altos
Fazer dos teus dentes asfaltos
Nas curvas das coroas
Ser teu rei imperador
Do teu paladar e sabor
Quero a tua língua
Na minha boca
Percorrendo louca
Todos os céus da boca
Sedenta de mim
Dentro de mim
E sempre assim!

Bruno Torrão
30 Jan. 07

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Poema CLXXXIX - Soneto digital

Que ao pegar na folha de papel digital
De bytes à mistura... delete não faz mal.
Sou soneto destruído e repetido
Sem grande formatação ou alarido!

Tenho forma simples e sem complicação,
Que o soneto recente já não é, senão,
Quadras e tercetos do que é o real.
Já sem paixões patéticas e outras tal!

Sou, agora, um soneto bem moderno
Dos que dispensam o bloco ou caderno.
O cheiro a tinta da esferográfica!

Adultero os trabalhos da gráfica
Com horas extra e em trabalho non-stop
Fácil de partilhar! Pronto para o desktop!

Bruno Torrão
29 Jan. 07

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Poema CLXXXVIII - Ao fim

Se me vens ao encontro por mim
E me descascas da alma teu perfume
Se me vens envolto em cetim
E sedas e suavidade e ciúme
E em cada palavra o meio o fim
E tudo o que queres que não se diga
O que por fim receio – dor de barriga –
É que me apartas sem já ter amor
E procures na incessante leveza dos passos
Esquecer entre nós todos os abraços
E carícias e beijos e toques e... quanto mais
E retornemos ao que fomos antes... jamais
Ser-se futuro mais que perfeito
Somos imperfeitos. Nada continua
Senão as lembranças na fase da lua
Mais aconchegante que ainda assim superámos
E guardámos... ao fim!

Bruno Torrão
17 Jan. 07

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poema CLXXXVII - Vago

Ainda agora se amanhece e o mundo,
Qu’inda agora parece tão parado,
Professa no meu corpo tão desalmado
A ideia mundana de que me afundo

Em cada minuto, em cada segundo,
Na estúpida razão da tua saudade.
E tanto me custa crer nesta verdade
Que me escapo de mim; e sou vagabundo.

Vagueia o pensamento que m’hostiliza
Como em corpo sem fronteira navegasse.
Vagueio triste e livre, sem porta ou chave,

E neste meu vago corpo que desliza
Desisto de tudo como se chegasse...
E o mundo desfalece tão suave...

Bruno Torrão
14 Jan. 07



Iniciemos, então, Fevereiro! Iniciemos, igualmente, a minha sétima compilação de poemas!
Se todos os outros livros tiveram alguma razão de ter este ou aquele nome, este que agora vos irei dar a conhecer, é exactamente o filho renegado. De tal forma que, quando decidi que aqui iniciaria um novo separador na minha obra, apenas surgiu o nome do poema que abre o livro, este que aqui vos escarrapacho! Vago! Livro vago!
Se, à excepção do Livro da Palma, todos haviam sido intitulados após a escolha do primeiro e último poema a figurar nos mesmos - e embora a criação do Livro da Palma possua a sua própria história - este novo capítulo nada tem a haver com nada. E talvez até por isso seja nada mais do que o próprio nome, inconscientemente atribuído, o queira denominar pelo seu ser. Vago.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poema CLXXXVI - Lascivo

Lascivo o desejo na pele molhada
Em percorrer com as unhas que não tenho
E pelo teu corpo que eu desenho
Na minha mente apaixonada

Percorrer com a língua já tresloucada
Cada dos teus sorrisos entreabertos
E manter em nós sempre despertos
O calor e a paixão incendiada

Pelos nossos odores consensuais
Nas brasas que lançamos pelos olhares
Que se cruzam quando me beijares
Com teus eternos lábios sensuais

Os meus lábios sedentos de fervor...
E destrançar os nós do teu cabelo
Para nele enrolar o tal novelo
Com que atamos em nós o nosso amor

Bruno Torrão
11 Nov. 06

domingo, 30 de janeiro de 2011

Poema CLXXXV - Galardão

É nesta eterna tentativa
De descobrir onde eu me encaixo,
Que vivo nesta perspectiva
Onde observo tudo por baixo.

Maior é, então, a vontade
De deixar de ser desta gente...
Que tudo o que faz na verdade
É só vontade incongruente.

Dolorosa é a manutenção
Entre os outros. Insuportável!
Sou a cabeça do batalhão
O invencível condestável!

É no declamar do discurso
E olhos postos no galardão
Que evoco todo o percurso,
Que, só, percorri na solidão!

Bruno Torrão
29 Out. 06

sábado, 29 de janeiro de 2011

Poema CLXXXIV - Teus lábio II

Desenhados, teus lindos lábios,
São pequenos e doces sábios
Que até mesmo estando calados
Me sabem a mel os teus termos.
Repletem de luzes... Doirados,
Todos os caminhos enfermos!

Quem tos desenhou (suave traço!)
Jamais julgou criar num espaço
Um tão grande encanto e beleza!
Deslumbro meus olhos molhados
Por beijar tão grande riqueza,
Teus lábios tão bem desenhados!

São as portas adormecidas
Do mais profundo beijo dado.
São céus de estrelas concedidas!
São brilho da tua gloss natural!
Desse teu sorriso matinal
Nos teus lábios tão bem guardado!

Bruno Torrão
27 Out. 06

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Poema CLXXXIII - Ego-retrato

De pálida tez e magna estatura
Do nada que fez ainda perdura
Virtuosa história dada aos presentes
E glória memória aos já ausentes

De ínfima inspiração e largo saber
Predilecta acção assentava em escrever.
De filho-saudade ou poeta louco
Trazia insanidade em tudo um pouco.

É gume da faca. Ser depressivo...
Ninho cobra veneno corrosivo
Mosquito malária raiva do cão.

A cultura levedou. Foi fermento.
A criatura que vos apresento
É orgulhosamente Bruno Torrão!

Bruno Torrão
18 Out. 06

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poema CLXXXII - Na nossa ausência

Despertar neste frio de ausência
A chorar por velhas horas perdidas
Afogando em pranto a permanência
Que deixaste nas memórias esquecidas.

Aguentar cada dia a demência
Duma alma de lágrimas caídas,
Espinhas cravadas na resistência
De um coração que ainda trucidas.

E tentar esquecer-te assim eu não quero
Só p’ra que saibas que ainda te espero
E que é tão grande esta dependência

Que a cada dia mais se abre a ferida
Tenho na ideia que se acaba a vida...
Todos os dias na nossa ausência.

Bruno Torrão
18 Out. 06

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Poema CLXXXI - Sem compaixão

Quero que sintas só por ti os versos
Que escrevo à nossa paixão, lembrando
Que em eterno silêncio e sem comando
Suporto dolorosos e emersos

Tristes sentimentos no meu coração.
Aguardando ainda com esperança
Que leias com prazer, desta criança,
O poema que te fez por própria mão.

Pois quero demonstrar neste poema
Que de ti preservo, em mim ainda,
Não só a paixão (e que já se finda,

Mas que nem assisto como problema)
Mas esta incessável inspiração
Que me dás em escrever, sem compaixão!

Bruno Torrão
16 Out. 06

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poema CLXXX - Jogo à sorte

@ Pombal


Manchas-me os olhos de saudade.
Salpicas-me a pele de arrepios
Como se fosse eu, insanidade,
Gelo que derrete por mares e rios...

Água vasta. Opção forte!
Cais-me na malha fraqueza.
Fecho os olhos. Jogo à sorte
As imaginações. São tristeza...

Bruno Torrão
11 Ago. 06

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Poema CLXXIX - Ad Coimbra

@ Penedo da Saudade – Coimbra


Aos meus pés a cidade vislumbra,
Como se os olhos a mim apagassem,
Elevada das trevas, na penumbra,
O relevo que as memórias elevassem.

A meus pés tenho todo um jardim!
Paraíso. De cinza verde a flamejar!
Num canto de saudade que levo em mim
Que a morte não chegue sem cá voltar...

A força maior guarda ainda em segredo
A sabedoria da palavra saudade.
Hoje descobri! Saudade, essa é Penedo.
Transcrevo: Coimbra é essa cidade.

Bruno Torrão
10 Ago. 06

domingo, 23 de janeiro de 2011

Poema CLXXVIII - Alumia

@ Almedina – Estádio – Coimbra


Sol raiado da escura brisa
Alumia-lhe o chão que acarreta
Sob seus pés de poeta
Seu chão sagrado que pisa

Hão-de volver anos e lembrarei
Nas tardes que agora velejo
As velas que ardem o que vejo
Quão sábio juro que não jurei

Teu chão que ainda hoje pisam
Por mim sagrado da minha herança
Faz de mim regressar-te criança
Que os anos não agem como hajam

Teus sorrisos escondidos entre beijos
Soltam-te os olhos flamejantes
Vejo-te como te vi nunca antes
Quando a ti me fazias gracejos

O sol cansado ainda te queima
P’la vitrina montra. Nosso lar!
Cá dentro sinto o sangue fervilhar
Com a aguçada vontade de quem teima

Que por mais distâncias que nos tenham
Vindos serão os serões que ajuntamos
Nossos desejos profanos profundos unamos
Enquanto telepáticos se empatiam

Os nossos encefálicos desejos
Os nossos fálicos carnudos objectos
Sexuais mudos afectos
Se afectem ao longe em tom de beijos.

Bruno Torrão
09 Ago. 06

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poema CLXXVII - Lembranças

Longas são tuas lembranças
Assassinas tuas lembranças
Que enforcam em longas tranças
Nas danças do entardecer

Loucas são essas tardes
Dolorosas essas tardes
De saudades covardes
Em que ardes num sol-pôr

Tamanha beleza fugaz
Momentos de grandeza fugaz
Que o brilho de tão sagaz
Nada mais traz senão lembranças

Longas e tristes lembranças
Sempre trucidas lembranças
Que nestas nossas andanças
Foram só feitas saudades.

Bruno Torrão
01 Ago. 06

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Poema CLXXVI - As galinhas

Bipatadas de frágil olhar
Corpo largo e bico afiado
Vão como loucas a cacarejar
As galinhas a meu lado

Bicam nas outras sem razão
No maior dos alaridos
Falam do pato e do falcão,
Dos frangos e dos maridos

Debicam no milho light
Contraceptivo e diurético
Correm loucas num “vem e vai-te”
Sempre com ar patético

Invejam galos e humanos
E as pegas que pegam brilho.
Alçam as penas em rascos panos
Comprados em saldos e grande estrilho

São assim as galinhas que aqui indico
Que comigo partilham o espaço
Que têm lábios em vez de bico
E em vez de asa têm braço!

Bruno Torrão
26 Jul. 06



Este é um dos mais cómicos poemas que alguma vez escrevi. Nasceu numa curta viagem de comboio entre Alverca e Sacavém (confesso que até foi assim que a maioria dos que escrevi entre 2003 e 2006 acabaram por se formar), quando num repente me enervava enquanto lia, com uma qualquer conversa parola entre três senhoras que se sentavam ao meu redor.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poema CLXXV - Pretensão

Pretensão de fazer girar
O teu nome em torno do mundo.
Nome alegre de sabedoria,
Nome forte de invejar
A quem possua, no fundo,
O mundo, o saber e a alegria!

Vontade forte de te pintar
Em tela sem cor. Liberdade!
Poder usar todo o espaço para ti...
Desenhar-te, não só pintar,
Preencher-te com a minha vontade
De ser eu o recheio de ti!

Ao teu nome dar a poesia
E a cada verso o teu olhar.
Escrever-te magnificente, e então,
Numa simples folha, antes vazia,
Enchê-la de vida e luar.
Prata suave que cobre o coração.

Bruno Torrão
25 Jul. 06

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Poema CLXXIV - Sobre o mar nosso

Foi aquém-mar, sal d’aqui,
Doca, noite, lua e rio,
Sob a ponte. Vento frio,
Aqueceu-se o interior.
Esqueceu-se o mar.

Brindámos aos corpos
Como copos de cristal.
Aquém-mar, além sal,
Olhos nos olhos
Esquecemos o mar.

Como se fosse uno o suor
E a fulgurosa atracção.
Foi algo que não paixão
Só duma noite...
Sem força de mar.

Bruno Torrão
10 Jul. 06

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Poema CLXXIII - Partida

Tanto que demora a tua partida
Para longe de dentro de mim.
O céu já se tinge nele de carmim,
E os teus olhos ainda têm vida
No céu que olho e não tem fim,
E onde estrelas me brilham guarida.

Pedaço de terra dura e seca, tu,
Que não deixas desistir-me de ti...
Sol que me apodrece o naco cru
É veneno que queima e mata aqui,
No meu espaço, vestido de pele. Nu!
Sem proteger o meu corpo que perdi

Junto à tua alma o espírito. Elevou-se!
Longe vai já. Bifurcado o caminho
Onde a passo e passo fico mais sozinho...
Tanto demora a partida... Acabou-se!
Quero mais é que partas em desalinho
Com uma vida que partiste. E quebrou-se!

Bruno Torrão
07 Jul. 06

domingo, 16 de janeiro de 2011

Poema CLXXII - Depressivos

Atafulho-me de drageias brancas –
Até elas sem cor – mortas. Frias!
(Anti?)-depressivos que me desancas;
Matas agora. O cérebro resfrias!

Encho a mão desalmadamente
À espera que me apagues suspiros,
Lágrimas e sôfregos, repetidamente
Lançados aos duros próprios tiros

Que o meu corpo não condena,
E até mesmo a mutilação abona...
A alma torna-se mais que pequena.
E a vida, o corpo abandona.

Deixo-me chorar, ainda só,
Enquanto o crânio parecer inchar...
Talvez se rebente. Se faça pó!
Aquilo que me tem feito matar.

Bruno Torrão
30 Jun. 06

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Poema CLXXI - Afogo

Temo o avanço inverso do meu ser
O regresso ao obscuro passado choroso
Onde a luz faltava como o escurecer
Forçado pelo escorrer tempo rugoso
Diferente de hoje, e amanhã, tenebroso...
Desfolhado livro de beleza a desfalecer.

E à noite desprendo a alma apertada
Entre o peito e costas a sufocar...
Solto as pétalas negras da rosa encarnada,
Ainda cheirosa a veneno, duro de matar!

E à noite desloco o corpo ao nada
Entre o vazio que me ocupa o ser...
Solto gemidos dolorosos de fachada...
Todo o resto é pior. Faço esconder!

Por não querer ser fraqueza em ti
E a quem me vê por fora...
Sou confusão no sangue que corre aqui
Nas veias solúveis cor de amora.
Mas à tua vista, amor de outrora,
Sou a força da água que tudo afoga!

Bruno Torrão
29 Jun. 06

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Poema CLXX - Da minha noção

Falta-me a noção de mim...
Excessiva! Observo-a. Futuro incerto.
Cobre-me a alma de céu aberto
Mais efémero que o vago fim.

Falta-me a certeza de tudo...
Findados momentos de conclusão
Onde fecho fora da razão,
A minha, o sentido que falo mudo.

Porque só quando me fundo
E emaranho no nada, vazio,
Tenho a perfeita noção em excesso.

A certeza irrefutável de que o mundo
Sem mim não tem razão. É frio!
Mas no fim, redondo, ao início regresso...

Bruno Torrão
26 Jun. 06

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poema CLXIX - Firmamento

Talvez os mundos parassem
Se ao nascer num momento
O nosso amor, e ficassem,
Entre vozes ao alento,
Somente as nossas, unidas,
De paixão munidas.
E maior que nós o firmamento!

Talvez o sol se ocultasse
Não dando ao tempo andamento,
E nos deixasse neste impasse
Eterno, terno fragmento
Do tempo que construímos,
De segundos que incutimos,
Ao Universo e firmamento!

Talvez a vida tivesse mudado
Se construísse o elemento
Que agora tenho apresentado!
A poesia, meu conhecimento,
Traz a mim a força do mundo
Que eu sou maior que o mundo!
Maior que eu, só firmamento!

Bruno Torrão
11 Jun. 06