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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

sábado, 27 de novembro de 2010

Poema CLXIV - Mudança

Por ti acordo à noite! Desassossego!
Naufrago num mar de sonhos em revolta.
Sem ti, na escuridão, sou mais que o medo
Que atormenta todo o mundo à sua volta!

Acalmo os meus lençóis no corpo à espera,
Enquanto a madrugada se torna dia.
Atiço os meus sentidos à louca fera...
Por ti mudava o mundo e repetia!

Na roxa solidão me desespero,
Friamente entre choros de agonia!
Só prego à noite que se faça dia

Na ideia de esquecer que te quero.
E enquanto a alma vaga se esvazia...
Por ti mudava o mundo e repetia!

Bruno Torrão
18 Jan. 06



Decidi, por gosto pessoal, encerrar a publicação do Magnotico - Livro Terceiro, aqui no Signo das Letras.
Durante os próximos tempos verão aqui publicados os poemas que compõem a minha sexta colectânea, à qual apelidei de Livro da Palma. O nome surge devido ao facto de, este mesmo poema - Mudança - ter sido escrito num caderno com uma folha seca semelhante à folha de palma estampada na capa. Seria, nesse, onde iria reescrever os meus poema predilectos até então.
O caderno, até hoje, guarda apenas o mesmo poema... e nenhum mais se juntou. Mas aqui, entre bits, muitos mais se foram insurgindo!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Poema CLXIII - Dama

Albergas em ti o mundo num sonho
E a voz da vida, inigualável de Portugal!
Matas a angústia do universo medonho,
Espalhada por esse mundo nosso sem igual!

És o expoente máximo da nossa saudade,
Amor traído em matutino alvorecer.
Cantas em cada canto a nossa verdade
Que em ti nunca o acreditar se fez querer...

És o gomo mais doce do nosso citrino,
Que em altos pomares se viu aflorar.
Escondes no teu olhar, gelado, matutino,
O gume da faca com que nos queres matar!

És a letra mais carregada de presença
Que num velho livro guarda a nossa vida,
Esperando a cada página a recompensa
De um olhar mais pálido que a tua partida!

A ti te escolho, dama da honra mais escura,
Para pregar pelos altares que tenho pisado.
Acolhe-me a alma que, ligada a ti perdura,
Num infinito sonho que jamais é alcançado!

Bruno Torrão
09 Out. 05

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poema CLXII - Outeiro

Inspira! Sentes ainda o cheiro
Emanado desta suja folha,
Escrita numa rua de outeiro
Eleito por nossa escolha,

A passar noites em céu lento
Aberto e, até, reluzente?
Aqui, acelerámos o tempo
Num Inverno ainda quente,

Escaldado por nossos sentimentos.
Foram curtos e longos momentos
Passados a olhar um rio

Que a névoa, outrora, tapara!
E os beijos que larguei na tua cara
Sinto-os hoje, suando, como frio.

Bruno Torrão
05 Out. 05

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Poema CLXI - Portões largos

Talvez seja tarde – demasiado! -
Quando a morte abarca cedo,
E vem trazendo em segredo
A crua felicidade a seu lado.

Talvez seja cedo – demasiado cedo! –
Ver esvair-me entre torrões
Sulcados duma terra onde pões
Arduamente teu corpo azedo.

Tarde. Cedo. Cedro. Cipreste...
Vida de vida de cemitério!
Portões largos; ocultem o mistério
Da minha dura vida agreste.

Abertos, altos portões largos,
Confidentes dest’alma enterrada,
Mantenham por eterno afastada
Tal alma que em mim fez estragos.

E que siga por ela seu caminho.
Cedo. Tarde. Eternamente nunca!
Prossiga ele nessa espelunca
Efémero corpo – e sozinho!

Bruno Torrão
29 Set. 05

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poema CLX - Ode do Oriente

Lisboa viu nascer
no seu bairro oriental
Aquilo que devia ser
o novo mundo em Portugal!
A exposição do velho mundo,
que os lusos desbrenharam,
Nasceu de um parque imundo
que os novos ignoraram.
Velhas latas enferrujadas
e lixeiras industriais,
Deram espaço a moradas
às novas tias de Cascais!
Entre lodo e muita lama,
batráquio e insecto,
Fez-se o Centro Vasco da Gama
de que a SONAE tem muito afecto!
Já se namora à beira-rio
e na Doca dos Olivais.
E os casais com o cio
nos Jardins da Água gritam por mais!
Projectou-se o Oceanário,
regalia para as lontras.
Aos visitantes enche o imaginário
e de souvenirs as montras.
Já o teleférico é um encanto,
que mesmo caro dá p’r’andar,
E é como qualquer canto
para o amor se consumar!
O Pavilhão Atlântico é a regalia
para os olhos de quem o visita,
Mas foi, na sua escadaria
que eu, assaltado, fiquei sem guita...
Os Jardins Garcia de Orta
com os bares que o ladeiam,
Toda a gente anda torta
devido aos cheiros que lá vagueiam,
Seja do Tejo que ele surja,
que em certos dias até é fixe,
Porém o odor da água suja
não anula o do haxixe!

Bruno Torrão
26 Set. 05



Este foi o segundo poema onde, num conjunto de Odes, decidira satirizar alguns bairros de Lisboa, tendo sido o primeiro o já aqui apresentado Ode à Decadência, que cai sobre o Bairro Alto.