A noite começa cedo
Para quem janta ao despachar,
Para evitar sentir o medo
De que não vai por certo apanhar,
O comboio que parte da estação
Às horas marcadas, em direcção
À boémia capital da loucura
Onde o dia é noite escura
E o sol nasce tardiamente.
A passeata pelo Chiado
E o café numa qualquer esplanada,
Alimentam o habituado
Jovem que não pensa em nada,
Senão na diversão
Que poderá encontrar,
Ou talvez não,
Numa pista a dançar
Já de cérebro dormente.
De rompante dá o salto
E sai correndo rua acima,
Até atracar no Bairro Alto
Que embeleza a colina
Mais nocturna de Lisboa.
Onde a freira cruza a puta,
A bicha com a loira boa,
Tal salada de fruta
Servida num cinzeiro.
O estômago fervilha!
Eu sei. Eu sinto!
O fígado, reduzido a ervilha,
Mistura-se com o absinto
Tomado num balcão,
Onde a proeza decadente
Toma a todos atenção
E faz o barman contente
Por ver seu tanto dinheiro!
Entre shots e long drinks
Lá as horas vão passando
Até tudo estar nos trinques
Para ir aos saltos andando
Até à porta da discoteca
Onde te diz um macacão
“Ou pagas ou neca!”
Mas tu queres é diversão
E até entras nessa!
Vais dançando todo contente
Entre vodkas e cervejas.
Entorpeças em toda a gente
Enquanto a bebida gargarejas
Numa loucura desvairada
De quem só tem um neurónio
Na cabeça alcoolizada
De quem se apelida Pussidónio
Quando no B.I. é Vanessa!
A noite quase termina
E tu não arranjas queca!
Mal tratas a puta fina
Que te roubou a boneca
Que passaste a noite a mirar.
O mais doloroso segue-se então
Na rua, sentado, a vomitar
O... jantar! É empadão!
OK! Enjoei...
Acabas a dormir sozinho
Na cama que teus pais deram
Com tal ressaca, coitadinho,
Pelas malfeitas que te fizeram.
A tua língua sente-la esférica,
A tua barriga nem sei, não!
E tanto acontece à lésbica,
À puta ou ao machão!
E até mesmo ao gay!
Bruno Torrão
05 Set.’04
Este poema vem, sem dúvida, marcar vincadamente o auge da minha vida boémia.
Era social. Ia a festas de pessoas que mal conhecia. Embebedava-me no Bairro Alto. Tomava drogas leves sempre que havia droga! Não precisava de motivo. Só de quem me enrolasse o charrito!
Porém, num dos momentos de pura lucidez, se vez alguma essa existiu, quis escrever (talvez até nem seja descrever) tudo o que pensei que todos nós - aqueles que ao fim de contas me acompanhavam - daquelas andanças acabávamos por procurar e achar, ou não achar! Assim era a decadência.
Para quem janta ao despachar,
Para evitar sentir o medo
De que não vai por certo apanhar,
O comboio que parte da estação
Às horas marcadas, em direcção
À boémia capital da loucura
Onde o dia é noite escura
E o sol nasce tardiamente.
A passeata pelo Chiado
E o café numa qualquer esplanada,
Alimentam o habituado
Jovem que não pensa em nada,
Senão na diversão
Que poderá encontrar,
Ou talvez não,
Numa pista a dançar
Já de cérebro dormente.
De rompante dá o salto
E sai correndo rua acima,
Até atracar no Bairro Alto
Que embeleza a colina
Mais nocturna de Lisboa.
Onde a freira cruza a puta,
A bicha com a loira boa,
Tal salada de fruta
Servida num cinzeiro.
O estômago fervilha!
Eu sei. Eu sinto!
O fígado, reduzido a ervilha,
Mistura-se com o absinto
Tomado num balcão,
Onde a proeza decadente
Toma a todos atenção
E faz o barman contente
Por ver seu tanto dinheiro!
Entre shots e long drinks
Lá as horas vão passando
Até tudo estar nos trinques
Para ir aos saltos andando
Até à porta da discoteca
Onde te diz um macacão
“Ou pagas ou neca!”
Mas tu queres é diversão
E até entras nessa!
Vais dançando todo contente
Entre vodkas e cervejas.
Entorpeças em toda a gente
Enquanto a bebida gargarejas
Numa loucura desvairada
De quem só tem um neurónio
Na cabeça alcoolizada
De quem se apelida Pussidónio
Quando no B.I. é Vanessa!
A noite quase termina
E tu não arranjas queca!
Mal tratas a puta fina
Que te roubou a boneca
Que passaste a noite a mirar.
O mais doloroso segue-se então
Na rua, sentado, a vomitar
O... jantar! É empadão!
OK! Enjoei...
Acabas a dormir sozinho
Na cama que teus pais deram
Com tal ressaca, coitadinho,
Pelas malfeitas que te fizeram.
A tua língua sente-la esférica,
A tua barriga nem sei, não!
E tanto acontece à lésbica,
À puta ou ao machão!
E até mesmo ao gay!
Bruno Torrão
05 Set.’04
Este poema vem, sem dúvida, marcar vincadamente o auge da minha vida boémia.
Era social. Ia a festas de pessoas que mal conhecia. Embebedava-me no Bairro Alto. Tomava drogas leves sempre que havia droga! Não precisava de motivo. Só de quem me enrolasse o charrito!
Porém, num dos momentos de pura lucidez, se vez alguma essa existiu, quis escrever (talvez até nem seja descrever) tudo o que pensei que todos nós - aqueles que ao fim de contas me acompanhavam - daquelas andanças acabávamos por procurar e achar, ou não achar! Assim era a decadência.
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