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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Poema CXXXIV - Tonto

A cabeça batuca... matuta.
Pensa. Tanto ela pensa.
Tem preso o peso de uma prensa.
É estranha derrotada de uma luta.

Dá mil voltas no seu lugar.
Roda e gira como nada...
Não chega ao fim de cansada,
Mas cansa-se de tanto pensar.

Prende-me a visão ao além,
Onde jamais cabeça estivera...
Não se lembra ela de Primavera
Florida, como quando se ama alguém.

Anda tonto o meu pensamento.
Doente da vida. Depressivo.
Por isso da vida me esquivo.
Por isso da vida me atormento.

Bruno Torrão
11 Fev. 05

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Poema CXXXIII - Fuga

Corre-me o rio por toda a face!
Rolam-me as pedras no pensamento!
Procuro, em vão, algo que disfarce
O que tenho cá dentro. Este tormento!

A fuga torna-se uma necessidade!
A vontade de sair sem ter norte,
Sem rumo escolhido. Só a vontade
De seguir o destino, à mercê da sorte!

Criar uma cruzada da liberdade,
Levada em extremo significado!
Não ter barreiras, nem saudade,
Nem vontade de voltar ao iniciado.

Perder-me em montes e caminhos.
Achar-me longe. Não mais me achar!
Perder de vista todos os caminhos
Para não mais saber como voltar...

Bruno Torrão
07 Fev.’05

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poema CXXXII - Velozes

Farto-me de fumar. Estou estranho...
Nunca vi, de tão grande tamanho,
Pensamentos correrem dentro de mim.
Parece-me uma auto-estrada sem ter fim,
Por onde carros alcançam tamanha velocidade.

Não lhes intercepto o caminho. São velozes!
Tenho medo? Não sei... parecem soltar vozes
Que encalham o meu agir. A solução...
Não percebo qual a meta! Para onde vão?
Tão rápidos, porquê? Qual a ansiedade?

Parecem-me ter perdido a simplicidade
Numa qualquer curva de má visibilidade.
Não parecem sequer ter qualquer destino...
Mas correm para algum lugar que não defino
Nos meus estranhos sentidos de percepção!

Correm como loucos! E não param, nem abrandam!
Tomara que algo os fizesse parar onde andam,
Para os poder observar. Para lhes poder perguntar;
“Porque existem em mim? Porquê tanto desgastar?
Saberão, talvez, que me gastam também! Ou não?”

Mas não param! Não abrandam. Só seguem
Em tais correrias que, suponho, não entendem
Também eles, a causa. Mas esgotam-me o pensamento!
Nada concluo. A destino nenhum chego, em padecimento,
Por nenhuma resposta obter. Só peço, agora, então...

Parem... Parem de correr!

Bruno Torrão
07 Fev.’05



Quando na cabeça as questões parecem ganhar tamanhos assustadores enquanto circulam pelas nossas auto-estradas cognitivas sem lei de velocidade... Sai isto. Saíu isto.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Poema CXXXI - Àqueles (o grito da liberdade!)

Gente estranha... Tanta gente!
Gente cinzenta num mundo de loucos,
São eles tantos ou tão poucos,
Os que sentem o sentir que a gente sente!

Tristeza guardada em coração dormente!
Têm conversas escondidas do mundo...
São desvairados. Também pensam fundo,
E sentem o sentir que a gente sente!

E é essa gente de tão acanhada mente,
Que nos ignora com tamanho desdém,
Que sabem que sentimos nós também,
E sentem o sentir que a gente sente!

Mas eles insistem em me tomar por diferente,
Porque amo o semelhante, e eles não!
No amor deles não comanda só o coração,
Mas sentem o sentir que a gente sente!

Por isso eu assumo à estranha gente,
Que sei ser como sou, e não como querem!
Que não é por me repudiarem que me ferem,
Aqueles que sentem o sentir que a gente sente!

Bruno Torrão
06 Fev.’05




Este foi, sem dúvida, um dos meus mais bem aclamados poemas até à época em que foi escrito. O simples rasgar de raiva que tentei demonstrar - muito calmamente como é tão próprio do meu ser! - fez-me enaltecer perante aclamadas palavras vindas de muita gente!
Perdi a vergonha de me assumir e de esconder aquilo que realmente me faz sentir bem e ser (a maioria das vezes) feliz. Assumi que sei amar quem realmente amo, e não preciso que seja institucional ou que esteja na Constituição a dizer que o posso fazer.

Amo porque amo.
Gosto porque gosto!
... E se não posso mandar nos sentimentos dos outros, por favor, livrem-se de mandar nos meus!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Poema CXXX - Mais fácil

Eu cá choro sempre parado,
À minha cama encostado,
Para que caia apenas meu pranto.
Mais fácil será encontrá-lo,
Que em qualquer outro canto,
Para quando quiser de novo chorá-lo.

Eu cá choro sempre a andar,
Por onde mais quero estar,
Para que caia o pranto na terra.
Mais fácil será esquecê-lo.
E assim não entro em guerra
Com o meu próprio flagelo.

Eu cá choro sempre a correr,
Por entre pedras a ferver,
Para que seque rápido a amargura.
Mais fácil será perdê-la,
Que em qualquer outra altura,
E então nunca mais revê-la.

Eu cá choro sempre a cantar,
Nas melodias que fazem chorar,
Para que a música alegre o poema.
Mais fácil será compartilhá-lo,
O que dificulta o meu dilema,
E que tão bem sabem escutá-lo.

Bruno Torrão
30 Jan.'05

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Poema CXXIX - Estas folhas

Sou como as árvores. Altas. Esguias.
Tocam céus, chegam fundo. São como eu,
Tão grandes são as árvores. Como eu.
Tão só como eu. Tão altas e frias.

Estão nuas no Inverno. Estão frias!
Enchem-se de cor no Verão. Como eu,
Todo o ano choro, folhas, que me deu
O Verão. Folhas. Cor e alegrias.

E choro no Outono as folhas mortas.
E no chão, então mortas, elas caem,
Como pesadas que fossem, leves são

Estas folhas que ganhei pelo Verão.
São minhas lágrimas que agora o cobrem.
Chão dos passos da vida que agora fogem.

Bruno Torrão
29 Jan.'05

sábado, 8 de agosto de 2009

Poema CXXVIII - Enjoado

Mata-me aos poucos, a rotina.
A sabedoria triste da vida cronometrada.
Vida seguida, sabida e farta. Enjoada!
Segue-se a estrada em que cada esquina

Se assemelha a outras tantas.
Estranho é, podera, quem as fez,
Por certo envolvido em mantas,
Decadência, insanidade e embriaguez.

Ruas tortas onde me assombro tanto.
Ruas estranhas onde me resguardo
E tão, estupidamente, o meu pranto
Afogo, mato... E deixo enterrado.

Bruno Torrão
28 Jan.’05

terça-feira, 28 de julho de 2009

Poema CXXVII - Por vezes estou vivo

Por vezes estou vivo... outras, nem sei.
Por vezes respiro. Outras suspiro...
Houve até alturas em que sonhei,
Que de um simples retiro,
Sombrio e húmido, escuro de morte,
Perdia a minha orientação e o meu norte,
A quem os meus suspiros mirava,
E com tamanha frieza mos roubava.

Por vezes estou morto... julgo que esteja.
Nem sei... Não conheço o que separa, afinal,
A vida da morte. Sou a alma que rasteja
Entre cacos e cactos, espinhos de dor mortal,
Que me rasgam a pele. Fraquejo. Como estou?
Nem sei dizer, sequer, o que sou...
Se alma, se corpo, se nada... ou tudo.
Se rasgos de tristeza que me fazem mudo.

Por vezes sou tudo... outras, nem tanto.
Por vezes sou nada. Por vezes apenas sou
Aquele que lança aos ventos o pranto
Que imagina que quem tal choro criou,
Não passa de alguém que não é vida.
Alguém que nunca foi nada. Esquecida,
Talvez, uma vida que se fez de aço,
Morta e desfeita pela malvadez do cansaço.

Por vezes sei o que sou. Muitas não sei.
Julgo que manejo o tempo e sou quem ensina
Toda a gente a viver o que, um dia, inventei.
Como manter a pose. Como matar a rotina.
Como se ser feliz numa intensa infelicidade.
Como se manter jovem no fim da idade.
Mas nem sempre estou vivo. Nem sempre morto.
Caminho, portanto, à luz de um caminho torto.

Bruno Torrão
24 Jan.'05

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Poema CXXVI - Quisera eu

Se a terra ao fim se entregasse,
Como pagamento à sua tortura,
Quisera eu, que a felicidade saltasse,
Da minha palma a uma pedra dura.

Se o mundo ao fim se redimisse,
E se submetesse ao descontrolo,
Quisera eu, que a euforia sorrisse,
Saltando por fim do meu solo.

Se a vida ao fim se terminasse,
E me desse oportunidade de escolha,
Quisera eu, que ela aceitasse,
A minha vida por esta folha.

Bruno Torrão
15 Jan.’05

domingo, 26 de julho de 2009

Poema CXXV - É estranho (que estranho)

É estranho que me adore
Quem eu nunca soube adorar.
É estranho que me ame
Quem eu nunca soube amar.

É estranho que me odeie
Quem eu nunca soube odiar.
É estranho que admire
O que não soube antes admirar.

É estranho que morra
Sem nunca antes ter vivido.
É estranho que viva
Sem nunca antes ter sofrido.

É estranho que sofra
Sem que tenha antes me arrependido.
É estranho que me arrependa
Sem que tenha antes aprendido.

É estranho que agora sorria
A quem nunca me tenha sorrido.
É estranho agora sofrer
Por quem nunca tenha sofrido.

É estranho que tudo me estranhe
E tudo o que estranho já vivi.
É estranho que tudo estranhe
Sem nunca estranhar o que vivi.

Bruno Torrão
13 Jan.’05



Estranho acredito que andava eu, nesta altura... Não me pareceque andasse bem das ideias. Agora que revejo estes últimos poemas, não gosto nada do que leio neles... :\

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Poema CXXIV - Prisioneiro

Prisioneiro

Gostava eu, de um dia saber,
De todas as palavras os significados,
Para no fim me saber defender
De todos estes e aqueles meus pecados

Que fizera um dia, enquanto vivi.
Que fiz toda a vez em que me existia.
Tomara eu, aprender o que aprendi
Fora da vida, enquanto vivia.

Extenso arenal, que pelo mar se estende,
É este que agora tanto procuro,
Saber o que, afinal, à vida me prende,
Num lodo que me aprisiona de tão duro.

Bruno Torrão
13 Jan.’05



Ainda que este não seja tão melhor... Mas se dois num dia são muitos, três exageram.
Amanhã passo por cá, novamente!

Poema CXXIII - Poema do desespero

Poema do desespero

Longe!
Vai para longe...
Sai!
Sai como quem foge ao mundo
Tal como foge o monge para se tornar ermita...
Para se tornar tão só
Para se tornar tão ele.

Parte...
Parte para longe de mim
Distante... perto do fim. Ou para lá
Da dimensão fechada.
Deixa-me!
Larga-me!

Estou em perfeito desespero...
Perfeita amargura, tristeza, solidão,
Angústia, penura, aflição, agonia...
E ainda permaneces.
Prendeste, agarras-me...

Posso até chamar-te...
Não me ouves chamar-te?
Responde-me, então...
Vem até mim. Quero-te perto de mim...
Sentir o teu perfume deambular
Pelas minhas narinas...
Sentir o teu olhar destruir-me
As retinas molhadas...
Sentir o teu respirar nos meus poros,
Suave brisa que corre meus pêlos
Fortes em corpo frágil...
Agora vem!

Vem!
Quero ter o prazer
De te ver sofrer como sofro!
Desespero por sentir tamanha vitória!
Anseio por te ver no chão
Pedindo misericórdia...
Mas deixa-me...
Só quero que me deixes.

Bruno Torrão
02 Jan.’05



Como não gosto NADA deste poema, hoje deixo aqui dois!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Poema CXXII - Cortejante

A Eva Redondo

Nasce por fora sem dar conta,
Cresce por dentro, incontrolável.
Deixa o corpo demente, a cabeça tonta.
É um bem tão mal alcançável.

Sabe tão bem cortejar...
Sabe tão bem sentir-se...
Tão facilmente sabe esquartejar
Um coração... e redimir-se.

É tão natural como o sorrir
Tanto o é como o morrer.
Nada mais é que o sentir
Que bem se quer, e se é bem querer!

Bruno Torrão
28 Dez.'04



Este poema nasceu em menos de 10 minutos. Na aula de Português do já distante curso, a formadora, Eva Redondo, a quem dediquei este poema, solicitou para que cada um descrevesse o amor. Eu fi-lo parecer assim. E até gostei! :)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poema CXXI - Monstro

Que papel é este que trago,
Em pedaços tão grandes e pequenos,
Incertos de doce e amargo?
Tão doentes e de saúde plenos...

Que estranho rasgo de solidão...
Rasgo a solidão, tão estranhamente,
Não se dispersa jamais. Não!
Permanece em minha mão demente

Como se, no verso, tivesse cola.
Vazia está minha mão. Vazia...
Repleta de papel em forma de bola.
Mando-a fora. Não se desvia.

Porque não me largas, terror,
Monstro do meu medo inconsciente?
Larga-me como me largou o amor,
Que em todos estes dias está ausente.

Bruno Torrão
26 Dez.'04

domingo, 14 de junho de 2009

Poema CXX - Mima meu fado

Se eu lançasse um dia, ao mundo, meu chorar
E num segundo seguinte me esfumasse,
Dava tudo para ver, dum mundo que me tapasse
Do resto, o quanto por mim ouvia gritar.

Certo que pouco. Certo que nada.
Certo me mataria mais ainda, desgostado,
Ao saber que no mundo que tudo fiz, enganado,
O que deixei foi o vazio e a obra malfadada.

Prefiro, então, manter-me calado. Iludido...
Não choro. Não grito. Não fujo...
Permaneço neste mundo imenso e sujo,
Onde o meu mal a todos passa despercebido.

Prefiro ser louco e por todos aclamado,
Fingir o meu sorriso aos que o desejam.
Mas é quando fico só, num sítio que não me vejam,
Que a solidão me aparta e me mima o fado.

Bruno Torrão
23 Dez.'04

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Estrelas Sugestivas V

Uma vez mais, venho aqui apresentar-vos um álbum que, para além de ser uma sugestão cultural, acaba por ser um modo de vos transmitir o quanto a música que ouço me influencia.

Como sempre tenho transmitido, aqui colocarei álbuns que de um qualquer modo me influenciaram ou me ajudaram a ter "aquele clique" para soltar a inspiração.

E assim é, desta vez venho dar-vos a conhecer o último trabalho de Pedro Moutinho (irmão de Camané e Hélder Moutinho - dois nomes já conhecidos no panorama do fado) também, tal como os irmãos, em muito bons caminhos nas estradas da canção da saudade!
Falo-vos, então, do álbum Um copo de sol, homónimo do primeiro tema do disco e também primeiro single, escrito e composto por Amélia Muge (que para quem não tem muita noção sobre música portuguesa, é uma das grandes senhoras da nossa cultura!) e, a meu ver, um tema fantástico!
Para além da contribuição de Amélia Muge, este álbum conta com inúmeros nomes reconhecidos do público. Falemos, assim, de Aldina Duarte, Rodrigo Leão, Tiago Bettencourt, Manuela de Freitas.

Todo o álbum está muito bem trabalhado. Uma interpretação fantástica de temas soberbamente bem feitos - quer poeticamente, quer musicalmente - assim como todo o "pacote" envolvente. Como reza a tradição, e sendo este um trabalho de fado ainda um pouco tradicional - no qual poderemos verificar na composição de vários temas, são utilizadas composições de fados tradicionais como o Fado Rosita, Fado Oliveira ou o Fado Meia Noite - o booklet utiliza tonalidades sombrias e fuscas.

Para além do tema single, devo enunciar alguns dos meus predilectos, embora a tarefa não seja, de todo, fácil! Ainda assim, após as já inúmeras audições, deverei sublinhar as faixas 3 (Sem sentido), 6 (Primeira dança), e 7 (Vou-te levando em segredo).

E, como se vem tornando hábito, segue-se a contribuição do Youtube! :)


Poema CXIX - Paixão

Devora-me o corpo, a mente,
A alma e o meu ser num todo.
Prende-me a um nada
Como quem nada sente,
Tal como prende lixo no lodo.

Arrasta-me com maior firmeza
Até aos confins do sentir...
E a minha vida é puxada
Com tamanha frieza
Até onde não quero ir.

Maltrata-me como ninguém
E molesta-me o coração...
Não sei, mas sinto,
Algo tão forte quanto paixão.
Não é amor, é solidão

Que trago dentro de mim.
É quem adoro, amo e venero.
É de quem não fujo nem minto!
É a quem devo, enfim,
A minha vida e morte. Espero!

Bruno Torrão
22 Dez. 04

domingo, 7 de junho de 2009

Poema CXVIII - Olhos Cegos

Trago os olhos molhados de ti,
Rasos de tristeza e de amargura.
Olhos cegos de choro, nunca os vi,
Tão cegos de angústia que tanto perdura.

Olhos cegos de lágrimas em solidão...
Gela-me o corpo! Nada vejo...
Desespero! Entro em ebulição!
Nada mais durou que um beijo

Furtivo, quiçá, relevante.
Durmo com ele noite adiante.
Durmo com ele junto ao coração...

Acordo morto. O teu já não existe!
Diz-me tu porque me iludiste,
E fechaste meus sonhos num imundo porão!?

Bruno Torrão
08 Dez.’04



Este é, de entre tão poucos, mais um dos meus "poema-maior". Escrito a escassos minutos que seguiram ao anterior! E é, além de tudo isso, um dos poemas predilectos da Vânia, da Sílvia, do Eduardo, pessoas em quem tanta confiança tenho na degustação de tudo quanto escrevo! :)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Poema CXVII - Gasto

Estou gasto. Simplesmente acabado.
Aguardo o anúncio com ansiedade,
De que tudo está, finalmente, terminado.
Não morro velho. Estou na flor da idade.
Mas estou gasto... Deus quanto estou fraco!

A sanidade mental vejo-a minguar
A cada dia que me olho de manhã.
Era jovem e vivo. Era a Primavera a cantar!
Estou morto e velho, já não sei, sequer, pensar!
Vivo agora pendurado numa infelicidade sã...

Murmúrios solto entre as neblinas,
Confidentes secretas que agora guardo,
Todas as noites, junto das cortinas,
Que me cerram a luz como um resguardo.
Porque agora, em mim, só as trevas trago,

E só elas manejo com todo fervor.
Estou morto, velho, doente e gasto.
De que me vale o sorriso sem calor
Que lanço ao espelho. Logo me afasto!
Que as almas que penam não têm rasto...

Bruno Torrão
08 Dez.'04



Este é, sem dúvida, um dos meus "poemas-maior" - os que assim apelido de predilectos. Cheguei, em tempos já idos, sabê-lo de cor, e raro é o que saiba, senão mesmo nenhum, hoje em dia.
E hoje sinto-me ligeiramente assim. Por vezes chego a pensar que me sinto sempre assim! Gasto!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Poema CXVI - Decresce-me

Quinze, catorze, treze
E as horas não param
Quem as guarda não deteve
E deixa-as assim, a cavalgar...

Doze, onze, dez, nove...
Os dias avançam sem atrito.
O calendário não se dissolve
Nem um pouco, nem um pouquito...

Oito, sete, seis, cinco, quatro
Os meses parecem corredores
Sem porta alguma, sem luz. Estou farto!
Os anos não retomam. Não voltam.

Três, dois, um, zero. ZERO. zero...
A vida foge de mim...
Eu não corro, mas quero...
Quero uma hora que seja, enfim.

Bruno Torrão
01 Dez.'04



Mais algumas mudanças no meu modus scribendum e, uma vez mais, um poema com o qual nada me identifico! De facto a tentativa de fuga ao meu estilo habitual não tem sido muito frutífera.
O facto é, no entanto, que a tentativa de fuga à malograda rotina se manteve nesta minha compilação e, quiçá até, durante muito mais tempo para lá desse!
Quem sabe, até, não seja o facto de ter uma vida rotineira que me dá a verdadeira inspiração?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Poema CXV - Eloquência

Sou a água e o fogo num só.
Sou o céu e a terra em união.
Sou metade de tudo, e o seu composto,
Uso a honestidade e a presunção,

A fraqueza e a grandiosidade.
O princípio e a extremidade.
Tudo o que descrevo é o certo
E jamais o seu oposto.

Tu, eloquência, que tanto me elevas,
Tão bem me rebaixas, até às trevas,
Escuro mundo onde não habito.
Fujo com medo. Choro. Grito!

Parto para lugar incerto.
Não sou eu. Eu não existo!
A perfeição lançou-me fora daqui...
Longe do mundo que mal descobri.

Bruno Torrão
27 Nov.'04

terça-feira, 26 de maio de 2009

Poema CXIV - Herói

Passei hoje pelo Tempo, de perto,
Inerte à vida que corre de fora.
“Vai-te para longe! Não te armes em esperto!
Sei bem que me queres prender e levar embora.
Sabes que o Tempo tudo pressente!
Não sou um mero humano inconsciente!”

Receoso fugi para longe do malvado,
Irado com a deturpação que provoquei
No seu mundo desfalcado,
Onde é senhor único, dono absoluto e rei
Da destruição decadente e fria
Da raça humana. Pobre coitada que nele se refugia!

Todo o mundo para mim está aglomerado
Num qualquer sítio que não encontrei.
Passei o tempo sonhando acordado,
Julgando, estupidamente, que algum dia farei,
Tamanho acto heróico digno de soberania.
Mas o tempo devora a minha sabedoria,

E tudo o que vejo é nada, senão dispersão!
Somente me restam vultos e vozes tornadas eco,
Que bailam à minha volta de tanta animação
Olhando para mim, com cara de boneco,
Apático à vida... Morrendo lentamente,
Avançando no tempo, como quem nada sente.

Bruno Torrão
31 Out.'04

sábado, 23 de maio de 2009

Poema CXIII - Sombra

Passo a rua vazia e escura
Vendo a vida andar torta,
E ao passar de cada porta
Adicionam-me amargura.

Percorro cada esquina...
Cada passeio piso pesado.
Evoco o passado. Afasto o passado.
Puta de vida que é sempre menina!

Adolescente. Inconsciente...
Futuro que pareces distante,
Só tu te aparentas constante
Numa vida que vive demente.

Só no escuro encontro o meio
Que procuro sempre sem fim.
Pintado no chão está, diante mim,
Em forma de amor, porém feio,

Um coração sinalizado,
Que à luz de um alto lampião,
A sombra projecta no alcatrão
Tudo o que tenho procurado.

Bruno Torrão
10 Out.'04





E foi esta mesma imagem que me deu inspiração a este poema.
Trata-se (ou possivelmente tratava-se) de um sinal de trânsito que se encontrava numa rua de Alverca, que dado o facto de estar vincado a meio, no chão, a sua sombra fazia assemelhar-me a um coração. :)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poema CXII - Balada de menta e suor

Teu corpo requebra na dança
De uma melodia. Uma balada.
Doce, a tua voz alcança
Meus ouvidos ressacados de ti.
Do teu respirar ofegante e caloroso.
Sensual... sexual... prazer carnal.

Lentos teus passos aproximam-te.
A cama espera-te. Eu desespero...
Segundos longos separam-nos
Até atingirmos os fundos...
Os altos, o tudo! O nós...

E envolvemo-nos em beijos,
Carícias e penetrações.
Minha língua une-se à tua.
Com ela preencho cada coroa
De teus dentes brancos e tratados.
Sinto teu hálito. É menta?

Sopras meu suor na face.
Refresca-me e recarrego...
A magia continua. A loucura...
Paixão e amor. Menta e suor...
Tudo ao som duma balada.

Bruno Torrão
17 Set.'04

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Poema CXI - Habitas-me

Estou só, na minha cama gelada,
Com o coração repleto de sentimentos.
Tal está a minha mente, só por ti habitada,
Imaginando nós dois em diversos momentos.

Faz-me assim lembrar o universo,
Que tem sempre o mesmo ar,
E com tanto corpo disperso,
À noite só se vê estrelas a brilhar.

Bruno Torrão
07 Set.’04

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Poema CX - Ode à decadência

A noite começa cedo
Para quem janta ao despachar,
Para evitar sentir o medo
De que não vai por certo apanhar,
O comboio que parte da estação
Às horas marcadas, em direcção
À boémia capital da loucura
Onde o dia é noite escura
E o sol nasce tardiamente.

A passeata pelo Chiado
E o café numa qualquer esplanada,
Alimentam o habituado
Jovem que não pensa em nada,
Senão na diversão
Que poderá encontrar,
Ou talvez não,
Numa pista a dançar
Já de cérebro dormente.

De rompante dá o salto
E sai correndo rua acima,
Até atracar no Bairro Alto
Que embeleza a colina
Mais nocturna de Lisboa.
Onde a freira cruza a puta,
A bicha com a loira boa,
Tal salada de fruta
Servida num cinzeiro.

O estômago fervilha!
Eu sei. Eu sinto!
O fígado, reduzido a ervilha,
Mistura-se com o absinto
Tomado num balcão,
Onde a proeza decadente
Toma a todos atenção
E faz o barman contente
Por ver seu tanto dinheiro!

Entre shots e long drinks
Lá as horas vão passando
Até tudo estar nos trinques
Para ir aos saltos andando
Até à porta da discoteca
Onde te diz um macacão
“Ou pagas ou neca!”
Mas tu queres é diversão
E até entras nessa!

Vais dançando todo contente
Entre vodkas e cervejas.
Entorpeças em toda a gente
Enquanto a bebida gargarejas
Numa loucura desvairada
De quem só tem um neurónio
Na cabeça alcoolizada
De quem se apelida Pussidónio
Quando no B.I. é Vanessa!

A noite quase termina
E tu não arranjas queca!
Mal tratas a puta fina
Que te roubou a boneca
Que passaste a noite a mirar.
O mais doloroso segue-se então
Na rua, sentado, a vomitar
O... jantar! É empadão!
OK! Enjoei...

Acabas a dormir sozinho
Na cama que teus pais deram
Com tal ressaca, coitadinho,
Pelas malfeitas que te fizeram.
A tua língua sente-la esférica,
A tua barriga nem sei, não!
E tanto acontece à lésbica,
À puta ou ao machão!
E até mesmo ao gay!

Bruno Torrão
05 Set.’04



Este poema vem, sem dúvida, marcar vincadamente o auge da minha vida boémia.
Era social. Ia a festas de pessoas que mal conhecia. Embebedava-me no Bairro Alto. Tomava drogas leves sempre que havia droga! Não precisava de motivo. Só de quem me enrolasse o charrito!
Porém, num dos momentos de pura lucidez, se vez alguma essa existiu, quis escrever (talvez até nem seja descrever) tudo o que pensei que todos nós - aqueles que ao fim de contas me acompanhavam - daquelas andanças acabávamos por procurar e achar, ou não achar! Assim era a decadência.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Especial: Na hora do chá IX

Quem tem seguido o Sob Signo das Letras, reparou que este ano, a 18 de Janeiro, comemorou-se o 25º aniversário sobre a morte de um dos meus poetas predilectos. Falo, como alguns saberão, de Ary dos Santos!

Tendo em conta a minha deslocação à sede da Sociedade Portuguesa de Autores para registar mais uns quantos poemas, fui hoje ao site da referida associação por motivos burocráticos e deparei-me com algo que me seduziu.

Fiquei sabendo, assim, que está patente no edifício da Rua Gonçalves Crespo, na Galeria Carlos Paredes, uma exposição sobre a vida e obra desse génio das letras da segunda metade do século XX, Ary, que se prolongará até finais de Agosto.

Por certo lá irei dar uma visita, obviamente!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Poema CIX - Café dos Teatros

Abóbadas vermelhas te sustentam
Entre portas altas envidraçadas
Suportadas por mármores degraus,
Por onde leve se dão passadas.
Almas boas. Corpos maus.
Tudo te passa. Todos te lamentam.

Das mesas quadradas e pretas,
Que com pretos e modernos assentos
Se sentam os corpos, maus e estranhos,
Onde eu escrevo os meus tormentos
E neles me envolvo. Neles me entranho,
Com um simples trocar de canetas.

Melhor que sítios longínquos, mares ou matos,
Onde a inspiração não finda,
Fico melhor, sem dúvida alguma,
A estas tardias horas, ainda,
Passadas das doze (confesso, quase uma)
Sentado numa mesa do Café dos Teatros!

Bruno Torrão
30 Ago.’04












As abóbodas e as cadeiras do antigo Café dos Teatros



Muito eu gostava daquele espaço. Uma calma pouco usual tomava-lhe conta todos os dias. O ambiente, talvez... Esse sim provocava-me aquela sensação mistificante de "poetisar". E ainda cheguei a escrever naquelas mesas uns quantos!
Tenho saudades desses tempos e do espaço em si. :(

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poema CVIII - Sem corpo

Estou farto de ser quem sou!
Farto de quem me rodeia e ilude...
Farto da vida. Se é vida quem apelidou,
Morto está... É fóssil ou já crude.

Cruel vida que se afasta
Da morte certa e infeliz.
Como se fosse a má madrasta
Castigando a princesa petiz.

Estou farto de ser quem fui!
Alguém que viu sombras numa gruta
Imaginando um mundo ideal,
Quando lá fora a vida é puta!

É a morte certa que se aproxima!
É a decadência que tarda a partir...
E vou estando... simplesmente lamentando,
“Morte que não chegas, faz-me sorrir!”.

Bruno Torrão
30 Ago.’04

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Poema CVII - Quotidiano

Acordei
Despertei
Caminhei
E corri
E caí
Não chorei
Levantei-me
E sacudi-me
Regressei
E desinfectei
A ferida
Estanquei
O sangue
Que sujou
A roupa
E não a lavei
Regressei
Sem correr
Não caí
E voltei
Ensandeci
Enlouqueci
Chorei
Adormeci
E não sonhei.
Já sonhei
Não acordei
Morri.

Bruno Torrão
27 Jul.'04



E com este poema se inicia o meu quarto livro, Magnotico - Livro Segundo.
De facto, este não é, nem de longe, um dos meus poemas preferidos. Muito longe mesmo! Porém, não deixou de ser uma experiência e, enquanto experimentação, é um ganho. Uma alternativa aos caminhos que sempre percorremos. Uma ligeira fuga à rotina, que tanto me marcou na construção deste livro que, a partir de hoje, vos apresento!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Poema CVI - Falo

Quem me dera, ó minh’alma,
Que eu só não soubesse falar.
Só tu sabes, minha alma,
O quanto me custa chorar
Por falar o que não devo...

Talvez por não falar o que devia,
Quando o obrigatório era falar,
Me sinto assim, alma triste e sombria,
Desamparado no mundo, sem lugar,
Apenas este lugar, onde me sento e escrevo.

Bruno Torrão
20 Jul.'04



Este é o último poema do meu terceiro livro - Magnotico - Livro Primeiro - que poderão consultar por completo clicando no link e, como se prevê, antecede a abertura do quarto, com um nome semelhante, o qual vos disponibilizarei ainda no decorrer desta semana.
Até lá, bons versos!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Especial: Na hora do chá VIII

Hoje, ao aceder à minha conta de e-mail, deparei-me com uma mensagem (admito) muito fora do vulgar.

Um e-mail proveniente do Portal Lisboa referia-se a ter acompanhado o meu blog e, segundo citam "gostariamos de lhe dar os parabéns pelo serviço cultural que tem prestado à poesia e à literatura". Confesso que me senti lisonjeadíssimo mas, como quando a esmola é muita o pobre franze o sobrolho, segui atentamente o texto, pelo que vos disponho aqui ipsis verbis do que se segue no dito e-mail:

"Depois do sucesso que foi a Primeira Colectânea de Poesia Contemporânea do Portal Lisboa e da Chiado Editora (www.chiadoeditora.com), com o nome “Entre o Sono e o Sonho”, vamos agora arrancar com o II. Volume da mesma colectânea, pelo que gostariamos de o convidar a noticiar este evento no seu blog".
Até então não achei malfeita alguma e, pelo contrário, até me surgiu a ideia de começar a anunciar acções semelhantes como concurso literários, cursos de escrita criativa, etc.

Continuando com o e-mail; "Neste momento, estamos à procura de novos autores para entrarem neste livro, pelo que o convidamos a visitar o regulamento desta colectânea no nosso site". E aqui sim, após visitar o dito link, surge o meu espanto.
A ter conhecimento, o parágrafo 2. do regulamento insurgiu-me alguma revolta, se é que será esta a melhor palavra para descrever o sentimento; "2. Forma de participação
Compra de 5 exemplares da obra ao preço de 12 euros por exemplar, por cada poema que desejar incluir na antologia...".

Certo que não se trata de nenhum concurso, mas sim de uma participação, leva-me no entanto a comparar, por exemplo, com um convite para uma festa, onde se é convidado mas para a qual se pede que comparticipe com o catering! Ora, se somos convidados, qual a finalidade de termos de ser nós a ter de entrar com a comidinha? Imaginemos que eu até decidia participar na dita Antologia, a qual se preveja ser uma imagem para a posterioridade do género artístico e criativo duma época e/ou sociedade, com apenas 5 poemas meus (cerca de 2% da minha Obra) teria de gastar 300 eur, o que equivale a mais de metade dos meus rendimentos mensais.

Ainda assim, confesso que não são tão "chupistas" como as editoras que se propõem a editar o trabalho de um novo autor!

Deixo, no entanto, a solicitada publicidade (sem custos!) à proferida acção.

Devo, isso sim, vangloriar um facto. Das receitas adquiridas, os direitos de autor que terão, no caso, uma parcelagem de 20% sob os 15 eur, serão doados a uma instituição de cariz social, ou seja, 3 eur por livro vendido ficando os restantes 12 eur (pagos para a inscrição) para bom proveito da editora. :)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Poema CV - Sardinheiras na varanda

Batem-se ao vento no Outono,
Que à noite me atrasa o sono.
Na Primavera se inundam de cor,
Para alegrar a minha dor.

Observam as gentes passar,
Pelas calçadas a falar,
Das vidas felizes que ostentam...
Das alegrias que noutros despertam.

E as sardinheiras da minha varanda
Ouvem falar tamanha propaganda,
Trazendo a mim a alegria,
Orgulhoso de as possuir todo o dia.

Bruno Torrão
08 Jul.’04



Este poema surgiu graças a uma conversa no meu já extinto fotolog. Falava-se de sardinheiras. Falava-se de varandas. Peguei na minha máquina digital de então e fotografei as sardinheiras da minha varanda. E escrevi este poema.

domingo, 26 de abril de 2009

Poema CIV - Eu e Ela

A vida ontem estava aqui.
Aproveitei, e com ela tomei chá.
Cochicho ali, cochicho aqui,
A tarde estava bela e já não está.

A vida partiu para longe daqui.
Aproveitei, e sozinho tomei café.
Lágrima aqui, lágrima acoli,
A vida era bela, e agora já não é.

A vida? Não sei quem é!
Estou só... Nem a vida conheço!
Choro deitado, sorrio em pé,
A vida tem aquilo que não mereço...

Bruno Torrão
30 Jun.'04

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Poema CXIII - Orgulha-te

É o desejo de apagar a vida.
Pegar no comando e rebobinar.
Comprar uma borracha rija e comprida
E simplesmente apagar.

É o desejo de iniciar
Aquilo que devia já ter sido.
É a vontade de mudar
Aquilo que tem persistido

E que não se apaga com sopros,
Como se de velas se tratasse.
É o separar de dois corpos
Como que neles se entrelaçasse

A euforia de poder modificar
O que se acha que está mal.
Mas agora paras. Ficas a olhar.
E na merda continua Portugal!

Bruno Torrão
20 Jun.'04

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Poema CXII - Candeias e Solidão

Trazia toda a luz em mim
Ganha da vida alegre que já tive.
Hoje trago lágrimas sem fim
Que cobrem meu corpo em declive.

Tudo o que guardei com certo carinho,
Estão agora, meu corpo, meu ser, minha alma,
Trincados violentamente por mim, sozinho,
Por cada canto que esquecia a calma,

Largando fogo de candeias ardentes
Em cada perna, em cada mão,
Nos meus cabelos, olhos... até aos dentes...
Para ver se matava a solidão.

Bruno Torrão
18 Jun.' 04

domingo, 12 de abril de 2009

Poema CXI - Sem falar

Vê bem o mal que me faz
Passares por mim sem me falar,
É tanto que até me satisfaz
Ver-te cair na merda que acabaste de cagar!

Bruno Torrão
s.d.



Ao que leva a raiva...
Não tecerei mais comentários acerca deste poema :P
... a não ser lançar uma propablidade da data em que o escrevi. Por volta de 14 a 17 de Junho de 2004.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Poema CX - Andei Perdido

Andei perdido em teu nome,
Por ruas de escuro amargo,
Onde tudo o que luz some
Por janelas que em mim trago.

Andei caminhando em teu corpo,
Como quem caminha pelo deserto,
Andando por um caminho torto
De destino completamente incerto.

Andei rastejando teu chão,
Guardando as terras que pisavas.
Guardo-as hoje no fundo do caixão
Para que sejam devoradas por larvas.

Porque andei cego toda essa era,
Hoje a luz das ruas me ofusca.
E das areias que em minha posse tivera
Hoje as lanço num’outra busca.

Bruno Torrão
13 Jun.‘04

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Poema CVIX - Demente

O maço esvazia-se...
A ânsia aumenta!
A vida não se encruzilha
E por uma noite atormenta.

O isqueiro não acende...
Os fósforos estão molhados!
As lágrimas, essas de repente,
Caem por entre poros espalhados

Ao longo de uma face,
Não triste, mas transtornada,
Da vida que leva pela frente.

Pobre cara... triste face.
Não vive a vida. Não vive nada!
Apenas uma morte demente!

Bruno Torrão
01 Jun.'04

segunda-feira, 30 de março de 2009

Poema CVIII - Quadra à Mãe

Se dedicar um poema à minha mãe
Não será coisa simples nem feia.
Obrigatoriamente será, tal obra também,
Tida como nome de epopeia.

Bruno Torrão
29 Mai.'04

segunda-feira, 23 de março de 2009

Poema CVII - Longe de ti

Longe de ti é o meu lugar.
Longe da dor, nascente de traição,
Um universo de ilusão.

A dançar, a dançar
Em qualquer lugar.
A sorrir, a cantar,
Dar sem receber.
Começar, acabar,
Delirar, chorar,
Dançar, sempre a flutuar.

Vou partir, vou sair
Para o meu lugar,
P’ra sorrir e viver
Sempre a dançar.
Corpos nus
A brindar aos céus.
Dançar, sempre a flutuar!

Longe de ti é o meu lugar.
Longe da dor, nascente de traição,
Um universo de ilusão.

A dançar, a dançar
À luz do luar.
Sem saber o porquê
Do que não se vê,
Que me traz o viver
Do intimo ser,
Viver! Sempre a dançar!

Quero rir sem parar
Só no meu lugar,
Viver em bom tom
Só com o que é meu.
Onde tudo é paixão,
Alucinação,
E dançar, sempre a flutuar!

Bruno Torrão
25 Mai.'04



Esta seria, supostamente uma letra para musicar. Até hoje continua apenas na suposição. Ficará sempre?
E ante-ontem foi dia Mundial da Poesia! Como a minha inspiração anda fraca (para não dizer NULA!) a celebração ficou-se pelo calendário, apenas. Obviamente que deixei uma marca na agenda!

terça-feira, 17 de março de 2009

Poema CVI - Anoitece

A Eva Redondo

Anoitece...
Deixa anoitecer devagar!
Que quanto menos tempo tiver a noite
Menos tempo tenho para me amargurar...

Anoiteceu...
Foi tão impetuoso o escurecer
Que a imensidão do escuro
Me deixou enlouquecer...

Enlouqueci!
Agora que a noite chegou
E a loucura atracou
Nada posso fazer senão amanhecer.

Não amanhece... não acordo.
Quem me diz se ainda estou louco?
Amanhece... não acordei...
Talvez tenha morrido um pouco.

Bruno Torrão
20 Mai.'04



Não! A Evinha não andava com ideias suicidas!
Este poema foi-lhe dedicado por uma simples razão. É um dos poemas onde usei a técnica a que apelidei de "Three Words Poetry" onde construo um poema a partir de três palavras soltas e, neste caso, dadas pela minha ex-formadora de Português, Eva Redondo, de quem, inclusivamente, tenho um montão de saudades... :)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poema CV - Caracóis

Para Cláudia Gonçalves

Andei comendo caracóis!
Que bom gosto que eu tenho.
Estavam tão bons os caracóis
Que agora não saio da casa de banho!

Apanhei caganeira tal
Que já parti a sanita!
Vejam bem como estou mal...
Logo uma moça tão bonita!

Agora só me faço peidar
Com cheirinho a orégão.
Mas que mal me veio atacar...
Grande foda pr’ó cagalhão!

Bruno Torrão
18 Mai.'04



Um poema que nada tem a ver com nada. Estava apenas presente numa qualquer aula quando soubémos todos o que tinha feito a Cláudia ir tanta vez à casa de banho nesse dia!
Tinham sido, de facto, os caracóis!
E assim se fez, do nada, um poema de nada a ver com nada!

terça-feira, 3 de março de 2009

Poema CIV - Dois mundos

Porque toda a gente me ama
À noite sinto a solidão chegar.
Porque toda a gente me deseja,
À noite as lágrimas me acompanham

Talvez por não saber viver acompanhado
E porque a história me colocou no centro...
Ontem não tinha ninguém e era feliz...
Hoje comando o mundo e não o desejo.

Irónico...

Porque ninguém me chama
Para poder alguma vez amar...
Porque tudo o que sobeja
Tem de ser sempre quem odiaram...

Porque como já fui odiado
Hoje não paro de chorar...
E sobrevivo agora pelo “triz”
Aguardando o triz por um beijo.

Bruno Torrão
12 Maio 04

segunda-feira, 2 de março de 2009

Poema CIII - Um filme

Içaste a âncora que me prendia ao teu mar
Levantaste voo em direcção a outros céus.
Hoje rogo para que possas voltar
E voltar a adormecer em terrenos meus...

Levaste o sonho que sonhámos,
Cortámos a corda que nos uniu...
Hoje choro lágrimas que secámos
Mutuamente, num filme que a gente viu...

Bruno Torrão
s.d.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Poema CII - Sempre soube chorar sozinho

Sempre soube chorar sozinho.
Deitar-me à noite e apenas chorar,
Agarro a almofada, com forte carinho,
Deixando-a de minhas lágrimas se embebedar.

Bruno Torrão
08 Abr.'04

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Poema CI - Procura II

Procuro na calma de um cigarro,
Longo e suave pela manhã,
A calma que quero e não agarro,
E que me atormenta a mente sã.

Procuro numa música suave
A calma que tenho e não aceito...
A calma que me atormenta como um encrave,
Que me persegue enquanto não me deito.

Procuro num poema triste
Entender porque não me sinto feliz.
Para isso este poema existe,
Que descreve a calma que tive e não quis...

Bruno Torrão
17 Mar.'04

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema C - Ao acaso

Ao acaso construí o mundo,
O qual ao acaso desmoronei.
Inundou-me o mal profundo,
Profano divino que criei.

Ao acaso deitei-me em águas,
De brilho cristalino e reluzente.
Ao acaso afoguei-me em mágoas
Tristes como eu sinto, somente.

Ao acaso deleito desapareci,
Deixando ao mundo a minha saudade.
E hoje, ao acaso aqui escrevi,
Na fonte da minha insanidade,

A carta que ao acaso vos deixei.
Poema que ao acaso irão ler,
Aqueles que por mero acaso me dei,
Que, por acaso, não mais me irão ver!

Bruno Torrão
14 Mar.'04



Ainda que na altura não fizesse a contagem dos meus poemas (e ainda embora acredite que esta contagem não esteja 100% correcta, porque afinal aquilo que nunca acabei por finalizar considero na mesma poesia) este centésimo poema parece que veio mesmo ser o ponto final. Uma carta suicida, quiçá. talvez fosse mesmo isso que eu quisesse na altura em que o escrevi. Talvez...

domingo, 18 de janeiro de 2009

Especial: Na hora do chá VII

Uma partida com um quarto de século mas uma saudade com mais idade que isso...




Sonata de Outono

Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.


Ary dos Santos

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Poema XCIX - Alverca, cidade minha

Sou teu filho em corpo e alma,
Cidade dona do meu ser.
Em cada vida espalhas calma,
De quem vive por te querer.

Estarás sempre em cada verso
Que a minha caneta escrever,
Mesmo que sendo controverso
Sei que estás no meu viver.

Alverca, cidade, és minha vida
Possuo em ti todo o saber.
Alverca na noite esquecida,
Vem junto de mim te aquecer.
Alverca sonha comigo imenso
Um sonho fácil de buscar.
Alverca de calor intenso,
És a minha essência, és o meu lutar.

Bruno Torrão
16 Fev. '04

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Poema XCVIII - Senhora Altiva

Quem te viu nascer mourisca
Não te sonhava altiva,
E cá quem passa lava a vista
Com teus olhares de diva.

Tão depressa que te fogem
Para além da quarta légua.
Mas no regresso te acolhem,
Senhora de esquadro e régua!

Deitada ao longo do vale,
A braços com o Tejo,
Dona dum sonho real...
Antiga senhora do Ribatejo.

Calças de prata as águas
Que beijam teu vestido verde
Da Alfarrobeira das mágoas,
Criadas por D. Pedro...

Quiseste tu ser um dia,
Cinzenta cor de tristeza,
Mas em ti reina a alegria,
A vivacidade e a beleza.

Das ruínas que te criaram,
Controlavas a piedade.
Dos peregrinos que a cá marchavam,
Levavam sempre saudade!

Bruno Torrão
16 Fev. '04



Como já tinha referido, talvez por outras palavras, sou um tanto-quanto bairrista. Defendo Alverca como se não houvesse outro sítio! Como tal, era incrédulo que não tivesse ainda escrito nada sobre Alverca.
Pois foi então, na noite de 16 de Fevereiro de 2004 que, enquanto relia um trabalho para o curso sobre as potencialidades turísticas de Alverca, que me sairam dois poemas. Um em quadras, mais popular, o outro mais irregular e pessoal.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Poema XCVII - Indiferente

Comprei um livro de magia,
Aprendi a lançar mau-olhado.
Atei três cordas à tua fotografia,
Para te manter afastado.

Jurei por maior segredo
Nunca mais pensar em ti,
Ficarás num baú guardado,
Ao mar futuramente lançado,
Do qual as chaves eu perdi!

Hoje recordo-te com tristeza
Mas em força passo-te à frente.
Não quero mais saber da tua beleza!
Hoje, graças a ti, passas-me indiferente!

Bruno Torrão
18 Jan. '04

sábado, 3 de janeiro de 2009

Poema XCVI - Procura

A minha procura por ti é inesgotável
Issaciante... interminável
Pena que não possa ser só por momentos
E ter de a levar em grandes tormentos
Para a eternidade dentro de mim.

Bruno Torrão
s.d.



Este é um dos exemplos que referi no post anterior.
Poemas curtos, alguns deles sem serem sequer datados devido à intenção de os poder vir a terminar, embora saiba desde há muitos anos que, assim que largo um poema, não lhe volto a tocar.
Ficam assim, inacabados!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Poema XCV - Sem dormir

Sem dormir... seguras-me a mão.
Lugares estranhos correm-me na mente...
O amor estagna... eu sei que não,
Não! Não voltaremos novamente...

E eu tento soltar-me... Não consigo.
Não quero sequer...
O pensamento torna-se meu inimigo
Do qual não consegues desaparecer...

Bruno Torrão
21 Nov. '03



Nesta altura, recordo-me, muitos foram os poemas que acabei por não terminar. Muitos porque não queria, outros porque os achava demasiado curtos. Só depois me apercebi que não precisava disso!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Poema XCIV - Partida

Em Coimbra

A minha alma anda parva!
Toda ela se alaga em mágoas
E distorce a informação
Enviada para o corpo.

O meu ser anda doido!
Todo ele se deita em águas
Vermelhas oriundas do coração
Que não se endireita e bate torto

Num compasso desritmado
Ao som de uma balada.
Aconteça o que acontecer
Eu vou-te amar...

Até ao fim do tempo.
E um dia voarei, para o nada...
Sou infeliz... nada há a temer!
Basta partir para outro lugar...!

Bruno Torrão
03 Out. '03



E o filme desta altura era "Moulin Rouge"... Não se percebe?