Sou eu que venho do mundo
Onde a vida salta à corda
E os sonhos se mordem à fome
Em lençóis nos quais confundo
– E o sentir faz com que morda –
A euforia que agora some.
Sou eu que venho do mundo
Onde os rios correm para trás
Das serras feitas de algodão:
Quadros que pinto num segundo
Com pincéis feitos de gás
Sulfato e abstracta perfeição.
Sou eu que venho do mundo
Onde as cidades se destroem
Por entre florestas de segredo
Cheias de fadas que fecundo
Com as palavras que corroem
A coragem e o próprio medo.
Sou eu que venho do mundo
Já acabado em artística obra;
Procriação em peça de museu.
Um aquário onde me afundo,
Envolto em veneno de cobra,
Amniótico líquido onde nasceu
O mundo de onde eu venho,
Crescido na vida do meu inverso.
Onde nem mesmo a consciência
Se cruza nas rectas que desenho
Ao longo de cada estrofe ou verso
Que emano da minha existência!
Bruno Torrão
01 Jun. 07
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Poema CCI - Sou eu que venho do mundo
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