Volta a beber deste vinho que
Trouxe perdido de outras bocas.
Vinha já esquecido doutros recantos
Da minha boca.
Bebe em tragos fortes e profundos!
Trago-os também fortes e também profundos!
E também te estrago com o vinho...
Com este vinho que mandei pisar
Quando ainda mal adivinhava o seu sabor.
O seu paladar a frutos secos
E amargos como as amêndoas
Que vejo nos teus olhos doces.
Entrego-te num copo de vidro
Ainda baço e marcado com linhas
Dos outros vinhos.
E ainda marcas doutros tantos lábios
Onde despejei outros tanto litros
Doutros tantos vinhos e deste, também.
Os paladares confundem-se!
Mas não os vinhos.
Bruno Torrão
05 Out. 08
domingo, 30 de outubro de 2011
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Poema CCVIII - Sobre os dedos
Desfiz na nossa cama os lençóis
E com eles emaranhei os dedos
Até sentir doer e estalar as unhas.
Nos nós do cabelo que constróis
Com estes meus fracos dedos
Senti cruzar a força que neles punhas
O pulsar do sangue. O pulsar apenas!
Nos dedos que agarraste apertando
Cada vez que os teus dedos tremiam,
Senti tremer meu corpo como as penas
Que tremem num vendaval coçando
O capim dos campos que se infirmam
Ao passar a praga de muitos insectos!
Sentir passar-te o vendaval nos dedos;
Baixinho. Quase que insensível, parece!
Quase rente ao corpo que dos afectos
Que fizeste cruzar com os teus dedos
Estremece, e por esses dedos padece.
Nos meus dedos restam apenas os nós
Que emaranham, apenas, ainda os lençóis
Da cama que era nossa e quis desfazer.
Largo agora os dedos pelos próprios nós
Que agarram com a força dos lençóis
O corpo deitado, carente, ainda a padecer.
Bruno Torrão
13 Abr. 08
E com eles emaranhei os dedos
Até sentir doer e estalar as unhas.
Nos nós do cabelo que constróis
Com estes meus fracos dedos
Senti cruzar a força que neles punhas
O pulsar do sangue. O pulsar apenas!
Nos dedos que agarraste apertando
Cada vez que os teus dedos tremiam,
Senti tremer meu corpo como as penas
Que tremem num vendaval coçando
O capim dos campos que se infirmam
Ao passar a praga de muitos insectos!
Sentir passar-te o vendaval nos dedos;
Baixinho. Quase que insensível, parece!
Quase rente ao corpo que dos afectos
Que fizeste cruzar com os teus dedos
Estremece, e por esses dedos padece.
Nos meus dedos restam apenas os nós
Que emaranham, apenas, ainda os lençóis
Da cama que era nossa e quis desfazer.
Largo agora os dedos pelos próprios nós
Que agarram com a força dos lençóis
O corpo deitado, carente, ainda a padecer.
Bruno Torrão
13 Abr. 08
domingo, 9 de outubro de 2011
Poema CCVII - Retrato do pianista
A testa franzida. Os dedos vincados
Correm em estrada branca encardida.
Nas notas soltas saltam palavreados
Desgostosos de amor que lhe trouxe a vida.
O olhar vago e os dedos vincados
Nas teclas vazias como na alma fria,
O pianista chora sorrisos mal esboçados
No amargo sabor da sua melodia.
E o pé que não cansa, e os dedos vincados
Pedalam na esperança de ver agradados
Os tons que lhe apagam a má postura.
E os dedos! Os dedos ainda vincados
Saltam nas pedras duras da própria cabeça...
E uma música acaba sempre que outra começa!
Bruno Torrão
21 Dez. 07
Correm em estrada branca encardida.
Nas notas soltas saltam palavreados
Desgostosos de amor que lhe trouxe a vida.
O olhar vago e os dedos vincados
Nas teclas vazias como na alma fria,
O pianista chora sorrisos mal esboçados
No amargo sabor da sua melodia.
E o pé que não cansa, e os dedos vincados
Pedalam na esperança de ver agradados
Os tons que lhe apagam a má postura.
E os dedos! Os dedos ainda vincados
Saltam nas pedras duras da própria cabeça...
E uma música acaba sempre que outra começa!
Bruno Torrão
21 Dez. 07
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