Na ampla praça cheia de olhares
Como quem estreia à luz a visão
Servem-se croquetes, rissóis, calamares
E aclama-se justiça cega em vão;
No centro ergue-se por quatro andares
Uma estaca esguia mal presa ao chão
Que se balança p’las correntes d’ares
Criadas pelas palavras da minha oração!
Assisto como nunca ao grotesco ocaso
Embebido em óleo alimentar de girassol
Para não me alimentar o colesterol
Enquanto que de baixo me embraso
Entre labaredas ruivas flamejantes
Prontas a assar-me os pedantes.
Aos poucos me caem em pedaços
Dedos, pés, tornozelos, canelas
E a todos os que enchem os paços
Dão de almoço p’ra encher as moelas.
Ficam ainda dispostos, nas mesas enfeitadas,
Os croquetes, rissóis e os calamares,
Trocados pelas rótulas tostadas
Caídas como maná dos ares.
E assim me vou assando lentamente
Como quem tem pena perpétua a cumprir,
Mais saboroso que a carne presente
Disposta sem custo a consumir.
E assim me disponho aos lobos ferozes
Famintos por carne fresca e rica,
Enquanto que serve aos albatrozes
Todo o resto que por ali fica.
Bruno Torrão
quinta-feira, 22 de março de 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
Poema CCXV - A revolta das maçãs
Rolam maçãs em fogo colina abaixo
Em reboliço fulgurante e d’aroma a caramelo
Pega cada uma num quente facho
E ardem-se entre todas pelo cabelo
Queimam campos e quintas e palhais
E secam as águas de cada poço ou fonte
E violam mulheres e homens e animais
E deixam tudo negro pelo horizonte
E rolam as maçãs colina acima
Repondo em chamas o que ainda arde
Numa festa de dióxido que as anima
Enquanto cai na terra morta a tarde!
Bruno Torrão
Em reboliço fulgurante e d’aroma a caramelo
Pega cada uma num quente facho
E ardem-se entre todas pelo cabelo
Queimam campos e quintas e palhais
E secam as águas de cada poço ou fonte
E violam mulheres e homens e animais
E deixam tudo negro pelo horizonte
E rolam as maçãs colina acima
Repondo em chamas o que ainda arde
Numa festa de dióxido que as anima
Enquanto cai na terra morta a tarde!
Bruno Torrão
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