Primeiro veio a noite, atrasada e escura de si,
Para nos esconder das caras que estranhámos
À partida, na nossa chegada, vi-me eu em ti
E nas horas que os braços entrançámos,
Traçámos conversas que só a dois fazem jus.
Fomos como copos trazidos em vinque de luz
Veio então a madrugada já criança
E os nossos corpos traziam luz de sobra
No enleio das músicas fizemos a dança
Que a alma insana aos corpos cobra.
Traçámos carícias que só a dois fazem jus.
Fomos como copos plenos de luz.
Chegou mais cedo a primeira alvorada
E a manhã submersa em névoa densa,
Com timidez da pressa, envergonhada,
De quem se desnuda de energia intensa.
Traçámos p’los corpos que só a dois fazem jus.
Fomos como copos emergidos na luz.
E tardámos na tarde invernosa e de chuva
A encontrar os nós górdios que nós em nós atámos.
Pisámos tudo o que se pisa como se pisa a uva
Até de vinho encher os copos com que brindámos,
E como se traçássemos nos copos o vinho em sumo
Partimo-nos dos copos até se fazerem fumo.
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