Os dias são sonhos lançados
Na vida, oportunidades perdidas.
Os escassos momentos de lucidez,
Se os houve, por vezes mascarados,
Foram nada mais que outras vidas
Que fiz sem fazer o que se fez.
São de secas os feitos, nados-mortos,
Frascos encharcados de quase nada.
As outras vidas, imersas e vagas,
Deambulam em invernos tortos
Contra relógios de corda parada,
Inversos, são acendalhas nas fragas.
Somos água corrente putrificada
Com sangue da vida de outrem.
Albufeiras de larvas e de lama.
Nascem cardos nos trilhos da vida,
Assim que choram, quando nascem,
Aqueles que um dia serão chama
E farão arder nas páginas rubras,
Tingidas pela paixão que fazem brotar
Nas horas inertes da madrugada.
Assim te sentas frente a nada e deslumbras
Como quem olha um quadro acabado de pintar
Disposto numa galeria condecorada.
Os sonhos são as horas perdidas, por certo,
Nas camas em que não dormes, sequer.
Descortinados desenhos mentais monocromáticos –
Embora acredite que coloro os meus de afecto
De tão surreais como um qualquer
Desenho de caleidoscópio automático,
Impossíveis de decifrar por oniroscopia,
Ou daqueles afeitos à experiência secular.
Os meus sonhos são murchas flores
Sedentas de uma rara realidade que existia
Apenas para saber como se libertar
Das regras que regem as próprias dores.
Bruno Torrão
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
sábado, 7 de outubro de 2017
Elegia à Despedida
Não me afectam as despedidas
Por maiores tristezas que tragam.
Ausentes gestos, são acções permitidas,
Que não despertam mais do que feridas.
São gumes de facas que rasgam
Desde a pele à alma palavras proferidas,
Outras atitudes esquecidas,
Outras marcas que em nós fincam
E marcam sem se dar conta
E que com o sarar dos cortes
Se tornam sombra que a mente monta,
Criando espessas muralhas e fortes
Intransponíveis e, por outras sortes,
Nos mal fortunam a quem se apronta
A nos tornar gente que a outros conforte.
Evitar despedidas é um bem preciso.
Nelas se aplica a maior fraqueza,
Do nosso lamento mais conciso
Seja o choro ou apatia ou riso
Ou a imobilidade que é natureza
De quando nos damos ao improviso
Da surpresa da angústia desse adeus.
Na medida em que me aflito
Enquanto racional convicto
Às despedidas e momentos seus
Emocionalmente tudo evito.
Por maiores tristezas que tragam.
Ausentes gestos, são acções permitidas,
Que não despertam mais do que feridas.
São gumes de facas que rasgam
Desde a pele à alma palavras proferidas,
Outras atitudes esquecidas,
Outras marcas que em nós fincam
E marcam sem se dar conta
E que com o sarar dos cortes
Se tornam sombra que a mente monta,
Criando espessas muralhas e fortes
Intransponíveis e, por outras sortes,
Nos mal fortunam a quem se apronta
A nos tornar gente que a outros conforte.
Evitar despedidas é um bem preciso.
Nelas se aplica a maior fraqueza,
Do nosso lamento mais conciso
Seja o choro ou apatia ou riso
Ou a imobilidade que é natureza
De quando nos damos ao improviso
Da surpresa da angústia desse adeus.
Na medida em que me aflito
Enquanto racional convicto
Às despedidas e momentos seus
Emocionalmente tudo evito.
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