Começa hoje, a 21 de Setembro, a estação do ano que me é mais querida. Exactamente! Tenho um predilecção pelo Outono que não tenho com as restantes.
A minha maneira de ser, talvez, seja a causa para isso. Nunca se sabe se o dia vai ser ainda quente ao estilo do Estio veraneio ou já camuflado o céu de nuvens, lembrando o Inverno.
Para tal seleccionei um dos meus poemas preferidos dum dos meus pilares de influência poética, o grande Ary dos Santos.
O poema que se segue, foi escrito já perto da sua morte, em 1983, tendo o poeta falecido em Janeiro do ano seguinte. O fadista Carlos do Carmo decidiu imortaliza-lo num fado, com o mesmo título. Segue-se, então, a Sonata de Outono.
Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
Poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.
a sonata que bate no meu peito
Poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.
Acordar é a forma de ter sono
O presente o pretérito imperfeito
Mesmo eu de mim me abandono
se o vigor que me devo não respeito.
O presente o pretérito imperfeito
Mesmo eu de mim me abandono
se o vigor que me devo não respeito.
Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.
Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao Céu, ao Mar
Pois viver é também acontecer.
Peço meças ao Sol, ao Céu, ao Mar
Pois viver é também acontecer.