Sento frente ao tempo e, com os dentes,
Desfio-me da pele que me prende ao espaço
Em que o meu corpo, por entre torrentes,
Se desflora como flores presas ao regaço
Duma imaculada virgem ainda estimada em feto.
Solto vagarosamente cada célula ainda viva
Presa à carne putrefacta onde injecto
A neura, químico fluido da cabeça-ogiva,
Ponto de partida para a loucura que me afecta.
Presa aos dentes vem a pele e, vermelha ainda,
A carne-raiva que se solta que nem veloz seta,
Preste a atingir quem neste espaço se finda.
Já desfeito do corpo e do tempo agora liberto,
Volto a ser intuito de um embrião futuro
Que, por mais que desvenda que seja incerto,
Nada me fará perder tempo, mesmo inseguro.
Quando do nada me reconstruo e me lanço
Todo o progresso é sinal duma grã vitória,
Ainda que seja bamba a corda onde balanço
Não há trapézio que não me sustenta a glória.
E volto aos poucos ao regaço de virgem feto
Onde pousei as minhas pétalas de pele.
Sou agora construído em forte concreto
E imaculado como uma nova folha de papel.
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
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