Passo a vida a viajar
dentro do nada.
A cada dia que passa menos desconheço
O que entre o que era e sou na estrada
Da vida é tudo menos começo.
Sou moribundo nas coisas que tenho
E naquilo que não possuo sou reflexo.
Do que sempre quis ser em tamanho
Ou forma disforme em que me convexo
Faço bagagem e trago-a para perto.
Se nesta bagagem trago uma rama despida
Daquilo a que ninguém presta afecto,
Desfaço-me do resto e presto-lhe a vida.
É então que planto num canteiro isolado
Daqueles que ao mundo só cinza deram,
E germino as ramas que tenho coleccionado
Entre as mais amargas viagens que eram
Somente estragos do meu ser inconsciente.
Se as ramas não dão folhas, não culpo a terra,
Antes o ar que mais é feito de toda a gente
Que ao redor do que se isola se encerra.
É, então, que desce como pano de fundo
Já humedecido e fértil de orvalho matinal
E das águas que movi, pensando no mundo,
E defino como inútil o esforço de ser canal
Por onde correm águas soltas e despertas.
Se antes quis que fossem turbilhões de
revolta,
Hoje apenas as amanso por valas abertas
Sem que recordem do caminho de volta.
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