Hás tantas acabei por esquecer,
Depois de tantas ausências repetidas,
Que parte do meu corpo te dá mais prazer,
Onde as minhas mãos te são mais queridas,
Em que lóbulo, esquerdo ou direito,
Suaves passeios preferes que a língua percorra.
Ao que me lembro, definias ser o perfeito
Caminho para a tua masmorra.
Esse estranho nome que davas
À tua discreta cave sem trancas na porta
E onde tantas vezes me levavas
Para fazer da vida uma santidade torta.
Esqueci-me não por te esquecer, acreditas?
Sabemos ambos que nos entretantos,
Por entre datas perdidas e vontades convictas,
Outros corpos foram menos santos
Por entre estas e as tuas mãos.
Nunca seremos de cada um, já sabemos,
E o que perdemos podem nem ser senãos,
Já que cada vez que novamente nos vemos
As preces voltam a ser rezadas com precisão
E sabemos onde nos conhecemos melhor.
Juntamos sempre os corpos com a exactidão
Com que foram feitos no nosso encontro maior.
Bruno Torrão
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