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Este blog nunca se irá encontrar escrito ao abrigo do (des)Acordo Ortográfico de 1990!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Poema CXV - Eloquência

Sou a água e o fogo num só.
Sou o céu e a terra em união.
Sou metade de tudo, e o seu composto,
Uso a honestidade e a presunção,

A fraqueza e a grandiosidade.
O princípio e a extremidade.
Tudo o que descrevo é o certo
E jamais o seu oposto.

Tu, eloquência, que tanto me elevas,
Tão bem me rebaixas, até às trevas,
Escuro mundo onde não habito.
Fujo com medo. Choro. Grito!

Parto para lugar incerto.
Não sou eu. Eu não existo!
A perfeição lançou-me fora daqui...
Longe do mundo que mal descobri.

Bruno Torrão
27 Nov.'04

terça-feira, 26 de maio de 2009

Poema CXIV - Herói

Passei hoje pelo Tempo, de perto,
Inerte à vida que corre de fora.
“Vai-te para longe! Não te armes em esperto!
Sei bem que me queres prender e levar embora.
Sabes que o Tempo tudo pressente!
Não sou um mero humano inconsciente!”

Receoso fugi para longe do malvado,
Irado com a deturpação que provoquei
No seu mundo desfalcado,
Onde é senhor único, dono absoluto e rei
Da destruição decadente e fria
Da raça humana. Pobre coitada que nele se refugia!

Todo o mundo para mim está aglomerado
Num qualquer sítio que não encontrei.
Passei o tempo sonhando acordado,
Julgando, estupidamente, que algum dia farei,
Tamanho acto heróico digno de soberania.
Mas o tempo devora a minha sabedoria,

E tudo o que vejo é nada, senão dispersão!
Somente me restam vultos e vozes tornadas eco,
Que bailam à minha volta de tanta animação
Olhando para mim, com cara de boneco,
Apático à vida... Morrendo lentamente,
Avançando no tempo, como quem nada sente.

Bruno Torrão
31 Out.'04

sábado, 23 de maio de 2009

Poema CXIII - Sombra

Passo a rua vazia e escura
Vendo a vida andar torta,
E ao passar de cada porta
Adicionam-me amargura.

Percorro cada esquina...
Cada passeio piso pesado.
Evoco o passado. Afasto o passado.
Puta de vida que é sempre menina!

Adolescente. Inconsciente...
Futuro que pareces distante,
Só tu te aparentas constante
Numa vida que vive demente.

Só no escuro encontro o meio
Que procuro sempre sem fim.
Pintado no chão está, diante mim,
Em forma de amor, porém feio,

Um coração sinalizado,
Que à luz de um alto lampião,
A sombra projecta no alcatrão
Tudo o que tenho procurado.

Bruno Torrão
10 Out.'04





E foi esta mesma imagem que me deu inspiração a este poema.
Trata-se (ou possivelmente tratava-se) de um sinal de trânsito que se encontrava numa rua de Alverca, que dado o facto de estar vincado a meio, no chão, a sua sombra fazia assemelhar-me a um coração. :)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poema CXII - Balada de menta e suor

Teu corpo requebra na dança
De uma melodia. Uma balada.
Doce, a tua voz alcança
Meus ouvidos ressacados de ti.
Do teu respirar ofegante e caloroso.
Sensual... sexual... prazer carnal.

Lentos teus passos aproximam-te.
A cama espera-te. Eu desespero...
Segundos longos separam-nos
Até atingirmos os fundos...
Os altos, o tudo! O nós...

E envolvemo-nos em beijos,
Carícias e penetrações.
Minha língua une-se à tua.
Com ela preencho cada coroa
De teus dentes brancos e tratados.
Sinto teu hálito. É menta?

Sopras meu suor na face.
Refresca-me e recarrego...
A magia continua. A loucura...
Paixão e amor. Menta e suor...
Tudo ao som duma balada.

Bruno Torrão
17 Set.'04

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Poema CXI - Habitas-me

Estou só, na minha cama gelada,
Com o coração repleto de sentimentos.
Tal está a minha mente, só por ti habitada,
Imaginando nós dois em diversos momentos.

Faz-me assim lembrar o universo,
Que tem sempre o mesmo ar,
E com tanto corpo disperso,
À noite só se vê estrelas a brilhar.

Bruno Torrão
07 Set.’04

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Poema CX - Ode à decadência

A noite começa cedo
Para quem janta ao despachar,
Para evitar sentir o medo
De que não vai por certo apanhar,
O comboio que parte da estação
Às horas marcadas, em direcção
À boémia capital da loucura
Onde o dia é noite escura
E o sol nasce tardiamente.

A passeata pelo Chiado
E o café numa qualquer esplanada,
Alimentam o habituado
Jovem que não pensa em nada,
Senão na diversão
Que poderá encontrar,
Ou talvez não,
Numa pista a dançar
Já de cérebro dormente.

De rompante dá o salto
E sai correndo rua acima,
Até atracar no Bairro Alto
Que embeleza a colina
Mais nocturna de Lisboa.
Onde a freira cruza a puta,
A bicha com a loira boa,
Tal salada de fruta
Servida num cinzeiro.

O estômago fervilha!
Eu sei. Eu sinto!
O fígado, reduzido a ervilha,
Mistura-se com o absinto
Tomado num balcão,
Onde a proeza decadente
Toma a todos atenção
E faz o barman contente
Por ver seu tanto dinheiro!

Entre shots e long drinks
Lá as horas vão passando
Até tudo estar nos trinques
Para ir aos saltos andando
Até à porta da discoteca
Onde te diz um macacão
“Ou pagas ou neca!”
Mas tu queres é diversão
E até entras nessa!

Vais dançando todo contente
Entre vodkas e cervejas.
Entorpeças em toda a gente
Enquanto a bebida gargarejas
Numa loucura desvairada
De quem só tem um neurónio
Na cabeça alcoolizada
De quem se apelida Pussidónio
Quando no B.I. é Vanessa!

A noite quase termina
E tu não arranjas queca!
Mal tratas a puta fina
Que te roubou a boneca
Que passaste a noite a mirar.
O mais doloroso segue-se então
Na rua, sentado, a vomitar
O... jantar! É empadão!
OK! Enjoei...

Acabas a dormir sozinho
Na cama que teus pais deram
Com tal ressaca, coitadinho,
Pelas malfeitas que te fizeram.
A tua língua sente-la esférica,
A tua barriga nem sei, não!
E tanto acontece à lésbica,
À puta ou ao machão!
E até mesmo ao gay!

Bruno Torrão
05 Set.’04



Este poema vem, sem dúvida, marcar vincadamente o auge da minha vida boémia.
Era social. Ia a festas de pessoas que mal conhecia. Embebedava-me no Bairro Alto. Tomava drogas leves sempre que havia droga! Não precisava de motivo. Só de quem me enrolasse o charrito!
Porém, num dos momentos de pura lucidez, se vez alguma essa existiu, quis escrever (talvez até nem seja descrever) tudo o que pensei que todos nós - aqueles que ao fim de contas me acompanhavam - daquelas andanças acabávamos por procurar e achar, ou não achar! Assim era a decadência.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Especial: Na hora do chá IX

Quem tem seguido o Sob Signo das Letras, reparou que este ano, a 18 de Janeiro, comemorou-se o 25º aniversário sobre a morte de um dos meus poetas predilectos. Falo, como alguns saberão, de Ary dos Santos!

Tendo em conta a minha deslocação à sede da Sociedade Portuguesa de Autores para registar mais uns quantos poemas, fui hoje ao site da referida associação por motivos burocráticos e deparei-me com algo que me seduziu.

Fiquei sabendo, assim, que está patente no edifício da Rua Gonçalves Crespo, na Galeria Carlos Paredes, uma exposição sobre a vida e obra desse génio das letras da segunda metade do século XX, Ary, que se prolongará até finais de Agosto.

Por certo lá irei dar uma visita, obviamente!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Poema CIX - Café dos Teatros

Abóbadas vermelhas te sustentam
Entre portas altas envidraçadas
Suportadas por mármores degraus,
Por onde leve se dão passadas.
Almas boas. Corpos maus.
Tudo te passa. Todos te lamentam.

Das mesas quadradas e pretas,
Que com pretos e modernos assentos
Se sentam os corpos, maus e estranhos,
Onde eu escrevo os meus tormentos
E neles me envolvo. Neles me entranho,
Com um simples trocar de canetas.

Melhor que sítios longínquos, mares ou matos,
Onde a inspiração não finda,
Fico melhor, sem dúvida alguma,
A estas tardias horas, ainda,
Passadas das doze (confesso, quase uma)
Sentado numa mesa do Café dos Teatros!

Bruno Torrão
30 Ago.’04












As abóbodas e as cadeiras do antigo Café dos Teatros



Muito eu gostava daquele espaço. Uma calma pouco usual tomava-lhe conta todos os dias. O ambiente, talvez... Esse sim provocava-me aquela sensação mistificante de "poetisar". E ainda cheguei a escrever naquelas mesas uns quantos!
Tenho saudades desses tempos e do espaço em si. :(

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poema CVIII - Sem corpo

Estou farto de ser quem sou!
Farto de quem me rodeia e ilude...
Farto da vida. Se é vida quem apelidou,
Morto está... É fóssil ou já crude.

Cruel vida que se afasta
Da morte certa e infeliz.
Como se fosse a má madrasta
Castigando a princesa petiz.

Estou farto de ser quem fui!
Alguém que viu sombras numa gruta
Imaginando um mundo ideal,
Quando lá fora a vida é puta!

É a morte certa que se aproxima!
É a decadência que tarda a partir...
E vou estando... simplesmente lamentando,
“Morte que não chegas, faz-me sorrir!”.

Bruno Torrão
30 Ago.’04

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Poema CVII - Quotidiano

Acordei
Despertei
Caminhei
E corri
E caí
Não chorei
Levantei-me
E sacudi-me
Regressei
E desinfectei
A ferida
Estanquei
O sangue
Que sujou
A roupa
E não a lavei
Regressei
Sem correr
Não caí
E voltei
Ensandeci
Enlouqueci
Chorei
Adormeci
E não sonhei.
Já sonhei
Não acordei
Morri.

Bruno Torrão
27 Jul.'04



E com este poema se inicia o meu quarto livro, Magnotico - Livro Segundo.
De facto, este não é, nem de longe, um dos meus poemas preferidos. Muito longe mesmo! Porém, não deixou de ser uma experiência e, enquanto experimentação, é um ganho. Uma alternativa aos caminhos que sempre percorremos. Uma ligeira fuga à rotina, que tanto me marcou na construção deste livro que, a partir de hoje, vos apresento!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Poema CVI - Falo

Quem me dera, ó minh’alma,
Que eu só não soubesse falar.
Só tu sabes, minha alma,
O quanto me custa chorar
Por falar o que não devo...

Talvez por não falar o que devia,
Quando o obrigatório era falar,
Me sinto assim, alma triste e sombria,
Desamparado no mundo, sem lugar,
Apenas este lugar, onde me sento e escrevo.

Bruno Torrão
20 Jul.'04



Este é o último poema do meu terceiro livro - Magnotico - Livro Primeiro - que poderão consultar por completo clicando no link e, como se prevê, antecede a abertura do quarto, com um nome semelhante, o qual vos disponibilizarei ainda no decorrer desta semana.
Até lá, bons versos!