São as pessoas assemelhadas
Às colheres que tenho no faqueiro;
Umas são brilhantes. Prateadas!
Outras de plástico. Do barateiro.
Quando olho para elas, que vejo,
O côncavo interior desfalcado,
Lembro-me de mim, e nelas revejo,
O meu interior todo alterado.
Porém, miro então o outro lado,
E atento, então, o convexo exterior.
Tudo normal! No sítio bem colocado,
Faz lembrar um mundo de esplendor!
No entanto, o mais importante,
E nem por muitos lembrado,
É que o côncavo mais perturbante,
É, dos dois, o mais bem desenhado.
Pois tão bem suporta no seu pedaço
Os mais gélidos cubos de gelo,
Como amontoa em tão pouco espaço
Um aninhado infinito de quente pelo.
Bruno Torrão
04 Mar. 05
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