Se é desta que trago o mundo
Em peso nos braços fracos
Que desde sempre sustento,
Tragam-me num só segundo
De todos os pratos os cacos
Unidos em sangue e unguento
Deste mundo que suporto
Nestes fracos e débeis braços.
Tragam vermelhos machados
E rosas púrpuras - que sou morto -
E preencham com eles os espaços
Dos poros no meu corpo dilatados!
Aí acomodem cada pétala desfiada
E c’os espinhos façam uma coroa!
Aleitem-me num lençol de flanela
- para ajudar na digestão da bicharada -
E não! Não me sepultem em Lisboa!
Sou demasiadamente único para caber nela!
Larguem os restos de mim ao ar...
Lancem-me em cinzas no oceano profundo
Para alimentar os peixes que habitam nele,
Ou que me deixem apenas no fundo do mar
Porque é desta que eu quebro o mundo
E passo a viver no centro dele!
Bruno Torrão
05 Abr. 09
domingo, 11 de dezembro de 2011
domingo, 30 de outubro de 2011
Poema CCIX - Vinho
Volta a beber deste vinho que
Trouxe perdido de outras bocas.
Vinha já esquecido doutros recantos
Da minha boca.
Bebe em tragos fortes e profundos!
Trago-os também fortes e também profundos!
E também te estrago com o vinho...
Com este vinho que mandei pisar
Quando ainda mal adivinhava o seu sabor.
O seu paladar a frutos secos
E amargos como as amêndoas
Que vejo nos teus olhos doces.
Entrego-te num copo de vidro
Ainda baço e marcado com linhas
Dos outros vinhos.
E ainda marcas doutros tantos lábios
Onde despejei outros tanto litros
Doutros tantos vinhos e deste, também.
Os paladares confundem-se!
Mas não os vinhos.
Bruno Torrão
05 Out. 08
Trouxe perdido de outras bocas.
Vinha já esquecido doutros recantos
Da minha boca.
Bebe em tragos fortes e profundos!
Trago-os também fortes e também profundos!
E também te estrago com o vinho...
Com este vinho que mandei pisar
Quando ainda mal adivinhava o seu sabor.
O seu paladar a frutos secos
E amargos como as amêndoas
Que vejo nos teus olhos doces.
Entrego-te num copo de vidro
Ainda baço e marcado com linhas
Dos outros vinhos.
E ainda marcas doutros tantos lábios
Onde despejei outros tanto litros
Doutros tantos vinhos e deste, também.
Os paladares confundem-se!
Mas não os vinhos.
Bruno Torrão
05 Out. 08
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Poema CCVIII - Sobre os dedos
Desfiz na nossa cama os lençóis
E com eles emaranhei os dedos
Até sentir doer e estalar as unhas.
Nos nós do cabelo que constróis
Com estes meus fracos dedos
Senti cruzar a força que neles punhas
O pulsar do sangue. O pulsar apenas!
Nos dedos que agarraste apertando
Cada vez que os teus dedos tremiam,
Senti tremer meu corpo como as penas
Que tremem num vendaval coçando
O capim dos campos que se infirmam
Ao passar a praga de muitos insectos!
Sentir passar-te o vendaval nos dedos;
Baixinho. Quase que insensível, parece!
Quase rente ao corpo que dos afectos
Que fizeste cruzar com os teus dedos
Estremece, e por esses dedos padece.
Nos meus dedos restam apenas os nós
Que emaranham, apenas, ainda os lençóis
Da cama que era nossa e quis desfazer.
Largo agora os dedos pelos próprios nós
Que agarram com a força dos lençóis
O corpo deitado, carente, ainda a padecer.
Bruno Torrão
13 Abr. 08
E com eles emaranhei os dedos
Até sentir doer e estalar as unhas.
Nos nós do cabelo que constróis
Com estes meus fracos dedos
Senti cruzar a força que neles punhas
O pulsar do sangue. O pulsar apenas!
Nos dedos que agarraste apertando
Cada vez que os teus dedos tremiam,
Senti tremer meu corpo como as penas
Que tremem num vendaval coçando
O capim dos campos que se infirmam
Ao passar a praga de muitos insectos!
Sentir passar-te o vendaval nos dedos;
Baixinho. Quase que insensível, parece!
Quase rente ao corpo que dos afectos
Que fizeste cruzar com os teus dedos
Estremece, e por esses dedos padece.
Nos meus dedos restam apenas os nós
Que emaranham, apenas, ainda os lençóis
Da cama que era nossa e quis desfazer.
Largo agora os dedos pelos próprios nós
Que agarram com a força dos lençóis
O corpo deitado, carente, ainda a padecer.
Bruno Torrão
13 Abr. 08
domingo, 9 de outubro de 2011
Poema CCVII - Retrato do pianista
A testa franzida. Os dedos vincados
Correm em estrada branca encardida.
Nas notas soltas saltam palavreados
Desgostosos de amor que lhe trouxe a vida.
O olhar vago e os dedos vincados
Nas teclas vazias como na alma fria,
O pianista chora sorrisos mal esboçados
No amargo sabor da sua melodia.
E o pé que não cansa, e os dedos vincados
Pedalam na esperança de ver agradados
Os tons que lhe apagam a má postura.
E os dedos! Os dedos ainda vincados
Saltam nas pedras duras da própria cabeça...
E uma música acaba sempre que outra começa!
Bruno Torrão
21 Dez. 07
Correm em estrada branca encardida.
Nas notas soltas saltam palavreados
Desgostosos de amor que lhe trouxe a vida.
O olhar vago e os dedos vincados
Nas teclas vazias como na alma fria,
O pianista chora sorrisos mal esboçados
No amargo sabor da sua melodia.
E o pé que não cansa, e os dedos vincados
Pedalam na esperança de ver agradados
Os tons que lhe apagam a má postura.
E os dedos! Os dedos ainda vincados
Saltam nas pedras duras da própria cabeça...
E uma música acaba sempre que outra começa!
Bruno Torrão
21 Dez. 07
sábado, 10 de setembro de 2011
Poema CCVI - Na mesa cama
Fumo nas noites o luar azedo
E o brilho das estrelas opaco e baço.
Encharco os pulmões de odor a medo
E grito no vácuo sentido em que abraço
As brasas num chão incandescente
E, no ar, as cinzas em pó asfixiante.
Já vejo o mundo arder lentamente
Por dentro duma bolha flutuante.
E à mesa exponho o corpo aberto.
Estilhaçada em cacos a minha mente!
Pego no vazio ao meu redor e aperto
Contra o nada que aqui se sente
E na minha cama aqui se sentam
As armas que ergo das batalhas falidas.
Só mesmo elas agora se contentam
Por me ver sangrar nas minhas feridas.
Assim me adormeço sob lençóis de pregos
Que cumprem em regra a lei da gravidade.
Dos sentidos me restam os olhos cegos
Cujas lágrimas tomaram em insanidade!
Bruno Torrão
09 Dez. 07
E o brilho das estrelas opaco e baço.
Encharco os pulmões de odor a medo
E grito no vácuo sentido em que abraço
As brasas num chão incandescente
E, no ar, as cinzas em pó asfixiante.
Já vejo o mundo arder lentamente
Por dentro duma bolha flutuante.
E à mesa exponho o corpo aberto.
Estilhaçada em cacos a minha mente!
Pego no vazio ao meu redor e aperto
Contra o nada que aqui se sente
E na minha cama aqui se sentam
As armas que ergo das batalhas falidas.
Só mesmo elas agora se contentam
Por me ver sangrar nas minhas feridas.
Assim me adormeço sob lençóis de pregos
Que cumprem em regra a lei da gravidade.
Dos sentidos me restam os olhos cegos
Cujas lágrimas tomaram em insanidade!
Bruno Torrão
09 Dez. 07
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Poema CCV - Chicote
Chicoteio numa cidade-noite dolentes versos
De sangue negro e amargo a vinho.
A alma trôpega soluça a pé-coxinho
Nas pedras calcário dos passeios dispersos.
Nas luzes amarelas que me mijam os ossos
Prego pregos de platina em corrosão.
Sangram-lhe os neutrões em faísca ao chão
Onde estendo as palmas e os destroços
Dos edifícios que não soube cimentar.
Nas escuras ruas – que são já avenidas! –
Escrevo por traços contínuos as medidas
Do meu corpo espalmado a lacerar.
Bruno Torrão
26 Set. 07
De sangue negro e amargo a vinho.
A alma trôpega soluça a pé-coxinho
Nas pedras calcário dos passeios dispersos.
Nas luzes amarelas que me mijam os ossos
Prego pregos de platina em corrosão.
Sangram-lhe os neutrões em faísca ao chão
Onde estendo as palmas e os destroços
Dos edifícios que não soube cimentar.
Nas escuras ruas – que são já avenidas! –
Escrevo por traços contínuos as medidas
Do meu corpo espalmado a lacerar.
Bruno Torrão
26 Set. 07
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Poema CCIV - Fumo
Fumo sem querer parar. Jamais o quis.
Na garganta o fumo asfixia-me a voz
E as palavras presas ao que se diz
Sob a forte névoa do fumo atroz.
Vejo opaco e negro o fundo do meu ser
E na garganta vermelho que brota
Em sangue de raiva, de ira a escorrer,
E no peito d’ânsias já se debota
Pelo corpo uma cor que desconheço.
Se apenas o fumo é o que mereço,
Que deixe jamais, então, eu de fumar!
E se ao menos o meu fumo respeito
– Que me consome da garganta ao peito –
Seja o resto do meu corpo p’ra fumar!
Bruno Torrão
14 Set. 07
Na garganta o fumo asfixia-me a voz
E as palavras presas ao que se diz
Sob a forte névoa do fumo atroz.
Vejo opaco e negro o fundo do meu ser
E na garganta vermelho que brota
Em sangue de raiva, de ira a escorrer,
E no peito d’ânsias já se debota
Pelo corpo uma cor que desconheço.
Se apenas o fumo é o que mereço,
Que deixe jamais, então, eu de fumar!
E se ao menos o meu fumo respeito
– Que me consome da garganta ao peito –
Seja o resto do meu corpo p’ra fumar!
Bruno Torrão
14 Set. 07
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Poema CCIII - Estrelas
Quando à noite sacudo o brilho das estrelas
E a imensidão do espaço vago de luz
A solidão embarca em mim e seduz
Tudo o que de escuro existe nelas
Imputa em mim a vontade de acender,
Incendiar e deixar queimar a existência.
Ver tornar-se pó ralo a paciência
Das esperas loucas – as ânsias – em te rever.
Agora que nelas o brilho é nulo e escasso
Relembro as labaredas dos fogos da paixão
Que as trevas mais opacas em pleno clarão
Se tornavam ao acontecer em nós cada abraço.
Bruno Torrão
10 Set. 07
E a imensidão do espaço vago de luz
A solidão embarca em mim e seduz
Tudo o que de escuro existe nelas
Imputa em mim a vontade de acender,
Incendiar e deixar queimar a existência.
Ver tornar-se pó ralo a paciência
Das esperas loucas – as ânsias – em te rever.
Agora que nelas o brilho é nulo e escasso
Relembro as labaredas dos fogos da paixão
Que as trevas mais opacas em pleno clarão
Se tornavam ao acontecer em nós cada abraço.
Bruno Torrão
10 Set. 07
domingo, 22 de maio de 2011
Poema CCII - Não era Verão
Era sonho que fiz acordar na madrugada
Perdida, ainda, às voltas no meu consciente.
Os dentes rasgavam as veias da almofada
Já alcoolizada do meu suor intermitente...
Não era Verão e eu já me sentia queimado,
Não na pele mas na alma quase morta.
A roupa da cama balançava-me asfixiado
Pelos escassos passos que me levam à porta
Onde a fuga seria mais fácil que o cenário
Negro e putrefacto que vingava no quarto.
As ideias derretiam-se ao invés e contrário
Daquilo que alguma vez foram de facto!
Perdida, ainda, às voltas no meu consciente.
Os dentes rasgavam as veias da almofada
Já alcoolizada do meu suor intermitente...
Não era Verão e eu já me sentia queimado,
Não na pele mas na alma quase morta.
A roupa da cama balançava-me asfixiado
Pelos escassos passos que me levam à porta
Onde a fuga seria mais fácil que o cenário
Negro e putrefacto que vingava no quarto.
As ideias derretiam-se ao invés e contrário
Daquilo que alguma vez foram de facto!
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Poema CCI - Sou eu que venho do mundo
Sou eu que venho do mundo
Onde a vida salta à corda
E os sonhos se mordem à fome
Em lençóis nos quais confundo
– E o sentir faz com que morda –
A euforia que agora some.
Sou eu que venho do mundo
Onde os rios correm para trás
Das serras feitas de algodão:
Quadros que pinto num segundo
Com pincéis feitos de gás
Sulfato e abstracta perfeição.
Sou eu que venho do mundo
Onde as cidades se destroem
Por entre florestas de segredo
Cheias de fadas que fecundo
Com as palavras que corroem
A coragem e o próprio medo.
Sou eu que venho do mundo
Já acabado em artística obra;
Procriação em peça de museu.
Um aquário onde me afundo,
Envolto em veneno de cobra,
Amniótico líquido onde nasceu
O mundo de onde eu venho,
Crescido na vida do meu inverso.
Onde nem mesmo a consciência
Se cruza nas rectas que desenho
Ao longo de cada estrofe ou verso
Que emano da minha existência!
Bruno Torrão
01 Jun. 07
Onde a vida salta à corda
E os sonhos se mordem à fome
Em lençóis nos quais confundo
– E o sentir faz com que morda –
A euforia que agora some.
Sou eu que venho do mundo
Onde os rios correm para trás
Das serras feitas de algodão:
Quadros que pinto num segundo
Com pincéis feitos de gás
Sulfato e abstracta perfeição.
Sou eu que venho do mundo
Onde as cidades se destroem
Por entre florestas de segredo
Cheias de fadas que fecundo
Com as palavras que corroem
A coragem e o próprio medo.
Sou eu que venho do mundo
Já acabado em artística obra;
Procriação em peça de museu.
Um aquário onde me afundo,
Envolto em veneno de cobra,
Amniótico líquido onde nasceu
O mundo de onde eu venho,
Crescido na vida do meu inverso.
Onde nem mesmo a consciência
Se cruza nas rectas que desenho
Ao longo de cada estrofe ou verso
Que emano da minha existência!
Bruno Torrão
01 Jun. 07
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